tag:blogger.com,1999:blog-14243629264746113852024-02-19T23:13:04.736-08:00Falar perdeu o sentidoHélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.comBlogger222125tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-8901148983245435862013-08-07T18:28:00.000-07:002013-08-07T18:28:34.817-07:00Você volta e revira<br />transpira<br />inspira<br /><br /><br />“Em que beco nos perdemos, amor?”<br />“Sou tua sombra.”<br /><br />As esquinas que dobrou agora dobram você e te vejo do ponto cego da sacada, com passos maiores que os pés<br />tropeçando nas próprias pernas<br />e perdas<br />soltando penas<br />pedaços nossos que nunca foram colados<br /><br />Eram partes mortas abandonando um corpo já abandonado<br />cheio de marcas<br />de facas<br />lágrimas<br />desgraças tatuadas<br /><br />Que escorrem e nos escorrem pelo ralo<br />nos entalam como uma mecha de cabelo<br />como duas mechas de cabelo<br />como teu pé tropeçando no próprio pé<br />como tua boca que fala mesmo enquanto cala<br /><br />"Depois de tanto tempo."<br />Quanto tempo se passou nesse passar de tempo<br />e o vento mostra que ainda somos os mesmos<br />entre tantos meios<br />e fins<br />entre tantos,<br />eu só escrevi pra você<br /><br />Seguindo instintos<br />querendo o eu em você, que clama<br />que chama<br /><br />"você não me deu adeus."<br />“nunca parti.”<br /><br />Em quantas partidas morremos<br />em quantas falhas acertamos<br />em quantas coisas que não foram nos percebem<br /><br />"Eu."<br /><br />As esquinas que dobraram você agora nos espiam<br />avulsos<br />com o pulso saltando, fazendo labirintos<br />pelo teu<br />meu<br />corpo<br /><br />Não pára pra observar o que vem vindo<br />não corre<br />não tropeça<br />não se faz do que não somos mais<br /><br />Saudade<br />Vontade<br /><br />De tudo que não ficou porque estamos no olho do furacão que só corre<br />vigia<br />espia<br />faz vigília<br /><br />Faz da nossa saudade, oração<br />faz das noites, dias<br />das ruas, becos<br />dos ecos, os peitos abertos<br /><br />voltando pra quem nunca foi;<br />você<br /><br />diga a eles<br />que correm<br />morrem<br /><br />diga a eles que<br />voltei pra quem nunca saiu de mim<br />você<br /><br />entre tantos tantos<br />entre e fecha a porta<br />“Eu voltei.”<br /><br />— <br /><br />Entre tantos,<br /><br />só escrevi pra você.<br /><div>
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-17871161766564382912013-05-16T12:30:00.001-07:002013-05-16T12:39:07.657-07:00Mais alto que bombasSobre as cartas que nunca tive coragem de mandar<br />
sobre o cheiro do teu travesseiro no meu cabelo<br />
sobre sempre querer fugir mas não ter abrigo<br />
<br />
Sobre sempre estar indo na direção contrária do pôr-do-sol<br />
sobre imaginar nossas lutas em céu aberto<br />
sobre você me salvar cada vez antes que eu tropece nos próprios pés<br />
sobre segurar na sua capa e voarmos pra cada vez mais distante do que não nos torna eternos<br />
sobre sua mão ser o meu troféu<br />
sobre os seus olhos cansados serem as lágrimas dos meus<br />
<br />
Sobre o que não pode ser escrito por ser real demais,<br />
sobre que não pode ter sido, sobre o que foi<br />
ou ainda será<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Será que podemos voltar ao dia que éramos completamente estranhos a aurea um do outro e nos encatarmos mais uma vez? Pedir mais um favor, puxar mais um assunto, mandar mais uma musica, um texto, uma risada e um desabafo? Podemos voltar a quem éramos antes de sermos somente nós dois e tudo que nos preenche? Posso voltar aos dias em que te lia como se você estivesse ao meu lado cantando suas crônicas e me fazendo sair de mim pra te encontrar em algum lugar lá fora? É lá que eu moro, no encanto de estar te conhecendo pela primeira vez todos os dias</div>
<br />
E nessa busca sempre voltar por estar indo longe demais<br />
ou caminhando menos<br />
ou parar esperando algo que não pode chegar mas que insiste em sempre vir<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
É um buraco na rua que desequilibra, uma pipa nos fios do poste, o meio-frio metade branco e metade cor da preguiça de quem lá deixou, uma meia lágrima, um texto sem fim, uma foto estranha de quem realmente somos mas que soa tão sem graça sem nenhum filtro ou sem nenhuma pose, sobre um sonho inacabado por estar atrasado pro que não muda, sobre a duvida de quem ser, do que ser e de como ser quando não se sabe ser ninguém além de você mesmo. É o ônibus que não vem, alguém que pede o lugar, alguém que rouba o celular, paciência, coração e moedas no bolso. É não saber o que falar até que algo tenha que ser dito, é quem somos quando ninguém nos vê, quanto ninguém nos sente e ninguém nos sonha, é aquela musica que me toca e te ouço mesmo com teus silêncios. É o acaso que nos torna amantes do raro e você é tão raro quanto todo repetido pôr-do-sol que alcança a minha janela e implora pra ser visto. Você é toda lua cheia, toda tempestade que fecha o quarteirão e assusta quem sente pouco. Toda poça d'água que é feita do que te fere e atinge todo mundo ao redor mesmo quando não chove. Talvez seja também aquele sopro que vem do nada e me manda embora quando eu só tenho como opção ficar, mesmo que sempre indo, mesmo que nunca existindo. Mesmo que mendigando uma presença tua em cada passada, em cada estrofe, em cada choro por não ter você mesmo sabendo que nada te faz mais meu do que você já ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Te queria por um dia dentro dos meus olhos te olhando como te vejo</div>
<div style="text-align: justify;">
como me escondo em cada traço do teu rosto</div>
<div style="text-align: justify;">
mesmo que nas olheiras de noites não dormidas</div>
<div style="text-align: justify;">
mesmo que no riso frouxo, aquele que não te pede e só grita</div>
<div style="text-align: justify;">
mesmo que te veja planejando o futuro com base no que você sonha a noite</div>
<div style="text-align: justify;">
não sabendo que você só sonha de olhos abertos</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando se perde dentro da imensidão que você não sabe que é e não te encontro em canto algum dentro de si mesmo tão perto de mim. Poder sentir teu próprio perfume e saber que é como uma droga pra mim. Se abraçar e saber que é lá que eu quero ficar até que o tormento acabe, te dar a mão e caminhar consigo mesmo até que perceba que eu também sou você e perdidos nos procuramos sem saber que já estamos aqui. Aqui nessa confusão que é tirar o cabelo do rosto trinta vezes por hora pra te enxergar da maneira mais limpa e bonita que posso, mas também me esconder atraves das mechas que me escondem de você. Aqui nesse eterno beco sem saída que é não ter pra onde escapar quando te vejo morrendo em cada indecisão, em cada sonho que não vai ser sonhado mais de uma vez, em cada afago que perde o valor. Se olha dos meus olhos e repete que nunca me deixará ir embora de ninguém além de você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
E em caso de não ter pra onde ir, te espero em casa <br />
onde tudo é tão pequeno perto do que temos<br />
e de quem somos quando temos um ao outro<br />
que não sei ser só<br />
<br />
Pra um coração que sempre bateu fora do peito e usa palavras grandes como sempre, nunca, amanhã e nós <br />
<div style="text-align: right;">
Eu amo você, meu bem. Hélida Carvalho </div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-32944895092579735292013-05-14T18:49:00.001-07:002013-05-14T18:59:03.411-07:00As notas daquele rodapé<div style="text-align: justify;">
Metade do assoalho velho despencava e ninguém mais notou que eu me escrevi em qualquer parede que lembrasse o branco que fazia contraste com os seus olhos emaranhados em bombas guardadas no oceano que escorria pela brecha da janela quase fechada. Enfeitei como se cada poesia nossa fosse aniversariante por me fazer ter mais um assunto, por notar mais um trejeito, por satisfazer esse libido que não deixa o arrepio da espinha em paz, que desce até a virilha e lembra quão mortal e involuntários somos ao nem sentir o que sentimos. Quem dita as regras sobre como seria esse fim miserável de alguém que nem sabia amar? Amor, estou sempre escrevendo para um fantasma que nunca me deixa ir a lugar algum e assim estou sempre voltando pra mim porque não sei pertencer a lugar algum que não me caiba, como não me coube em morar na sombra dos seus olhos, num passo atras do seu, num cabelo que cai no rosto, na chuva que tomo enquanto chego a sua casa, no chá sem gosto que você me faz, no orgasmo que não tive, na dor que me causou e aplaudiram como se fossemos passatempo de uma platéia entediada, num cílio na gola da camisa no beijo que era pequeno demais para caber metade de mim, no adeus sem olhar pra trás pra checar se eu estava voltando ou indo de uma vez, no circulo que o nosso passo fazia e ninguém ao redor percebia porque eu ainda contava nossos últimos passos e no desprezo por não acreditar mais no que aconteceria se algo nos acontecesse e aconteceu. Aconteceu o nada que sempre temíamos acontecer, vir como uma onda destruidora procurando a paz que não existe e levasse-nos como pobres formigas a beira mar, como se nossas vidas fossem moedas velhas jogadas aos mendigos de calçada. Aconteceu que os muros da cidade se estreitaram e nenhum dele me coube, nenhum me acomodou como o céu da sua boca ao me deixar. Aconteceu que os meus discos não me ouvem mais e tudo o que os meus vinis fazem é ocupar espaço e juntar poeira, aconteceu que nossas fotos perderam o brilho, aconteceu que o meu pé torceu, seu cabelo cresceu, ninguém sabe realmente o que aconteceu. Você aconteceu antes de qualquer palavra ser riscada ser direcionada pra você, antes de qualquer final feliz ser escrito, você apareceu e eu perdi o rumo da história. Eu perdi o caminho e estou perdida nessa rede de luas que contornam a janela do meu quarto e de lá vejo toda chance que eu perdi se você não estivesse tão perdido quanto eu.<br />
<br />
As notas daquele rodapé são as cartas que não assinei, os beijos que não dei, o adeus num ultimo abraço, a reticência da nossa poesia, o sangue que escorreu das brigas que não tive coragem de enfrentar, o medo do escuro. Eu era tudo aquilo que não podia ser feito e ainda assim fui.<br />
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-37999450221005462042013-05-05T19:00:00.002-07:002013-05-05T19:00:50.753-07:00La-gri-maAmor,<br />
a história mais antiga do mundo<br />
um começo<br />
um meio<br />
outro fim.<br />
<br />
Somos duas bombas caseiras prontas pra devastar qualquer quarteirão.<br />
<div style="text-align: justify;">
Agora eu entendo. Por tanto tempo foi tão bonito olhar o céu dos teus olhos que ao tentar andar caí. Caí de um prédio de vinte andares e ainda assim nada me dói mais do que te ver indo embora outra vez. Outra vez que nos confundimos e você virou a esquina errada, eu bati no poste e você morreu. Eu amei e você correu. Eu e você. Sempre essa dor ambulante com mais de quinze anos e ainda não tendo a paz merecida. O que fizemos, amor? Em que esquina nos perdemos e aceitamos a condição que não fomos feitas pra durar? Em que dor se perdeu esse amor que não nasceu mas que morre a cada passo que você dá ao contrario do caminho que tracei pra nós.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Você já foi minha alguma vez? Você já prometeu ficar e foi embora segundos depois? Você sabia que a dor que eu tenho num lado do peito pode cobrir você e te afundar até o mais sombrio pesadelo da sua mágica mente? </div>
<div style="text-align: justify;">
Amor</div>
Amor<br />
Por que pensar tanto se nada tem outro meio<br />
Por que não aceitar que somos fim e que prolongar isso seria só colocar mais um fim após o outro e outro e outro<br />
e nos fazermos eternas enquanto o mundo lá fora nos rebate e nos joga em qualquer calçada imunda<br />
ou nos tranca em um quarto arrumado como cemitério<br />
Na sua cama tem sonhos?<br />
Você tem sonhado ou morrido a cada vez que encosta ao travesseiro e chama por mim?<br />
<br />
Eu nunca estou lá<br />
Eu nem sei quem sou e por isso não te digo onde me escondo<br />
<br />
Você está perdida<br />
Tão lindamente perdida quanto eu e as palavras se perdem conosco e nos enfeitam<br />
mostrando que não existimos além do que sentimos<br />
<br />
Não seriam suficientes pra demonstrar o quanto transbordo (com todas as silabas separadamente) amor quando você encosta em mim e diz baixinho que sou doce<br />
quando o resto (todos eles que joguei fora)<br />
me provaram como fel<br />
<br />
Amor, você foi embora ou está escondida atrás dos meus olhos?<br />
ou talvez embaixo da cama onde escrevo essas milhares de cartas que não dizem nada mas que insisto em escrever por tentar<br />
tentar tentar<br />
tentar vomitar o que senti quando você me apunhalou e me beijou na mesma semana<br />
e por dias só consegui pensar quando você voltaria pra me machucar mais uma vez<br />
<br />
E percebi que não sou nada quando você não vem<br />
que a água do chuveiro é mais fria e que se tomo remédios a mais fico quase cega<br />
caindo pelos cantos tentando mandar esse amor embora<br />
como a tv fica desinteressante a ponto de me fazer assistir cada programa de tv<br />
como toda musica toca e nenhuma nos ouve porque você não está aqui<br />
mas cada pedaço seu toma o meu corpo como se eu nunca tivesse morado em mim<br />
esse amor que toma o meu corpo como um câncer em fase terminal<br />
me fazendo morrer cada vez que fecho os olhos e você não está lá<br />
<br />
Você já ficou algum dia?<br />
Você vai voltar na próxima década e eu não vou dizer tudo o que eu tinha pra dizer porque eu não sei como<br />
você tem tanto de mim e isso é o teu pecado<br />
não fomos feitas pra durar<br />
<br />
Sem o sentido que trago, te ver com qualquer outro é um inferno<br />
porque seu amor é meu por obrigação<br />
você me tem tanto e me joga tanto<br />
me joga em cada palavra que escapa da sua boca e por acidente me faz morar em você por mais um semestre<br />
me joga em cada mesa de bar, me aposta como se eu não fosse tão valiosa quanto os 500 reais na sua carteira<br />
me joga como um cigarro que não fumou até o fim por preguiça<br />
eu sou um tédio, amor<br />
vamos jogar tempo fora<br />
<br />
Volta pra casa<br />
se eu ainda for a suaHélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-132355835639814092013-04-03T10:27:00.001-07:002013-04-03T19:04:16.794-07:00Todo mundo se esconde<br />
<div style="text-align: justify;">
Como tudo que passa por nós como um vulto, como uma sombra que nos segue sem pedir a mão, como os cabelos que se despedem ao cair nos olhos, como o cílio que não pede permissão e vira desejo. Tudo o que sobrou de nós foi o despercebido, o resto de ilusão que nos ocupou por meses antes de preenchermos o tumulo e nos enterramos em verdade. Somos agora o instante, a placa STOP antes do abismo, o prendedor de cabelo, o cortador de unha, o bocal da caneta. Somos a segurança de fazer as coisas que não existem ficarem. Ficarem por medo de ir embora. Ficar, porque ir embora não tem mais valor. Ir embora, porque me afogo nas dores que foram um oceano no travesseiro e mesmo assim ninguém me ouve. Choro nos pontos mais altos da cidade e ninguém faz coro, ninguém pede silêncio, ninguém me viu passar. Ninguém pediu a mão, o colo, o silêncio e o ficar. Ser tão invisível não era problema, amor. Até que você morreu e agora não sei que direção tomar ou em que abismo me jogar. Vivo dias que se emendam em meses, se entrelaçam em anos e ninguém me afaga os cabelos, ninguém é seguro a ponto de me fazer ficar. Amor, tudo ao meu redor é ilusão. </div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-83740265990369872152013-04-03T10:26:00.002-07:002013-04-03T10:26:54.660-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://25.media.tumblr.com/2913533e1cc38e53bea4fadc9a3b543c/tumblr_mfrrbsVVhU1s1h5l1o1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://25.media.tumblr.com/2913533e1cc38e53bea4fadc9a3b543c/tumblr_mfrrbsVVhU1s1h5l1o1_500.gif" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-6447585469220134822013-04-03T09:44:00.001-07:002013-04-03T10:28:29.422-07:00Espelhos que mentem<span style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;"> Imundos, velhos, jovens, perdidos. </span><span style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">Encontrados num vilarejo de pouca fé, muita esmola, muitos quebra-molas e pouco amor. Lombadas que atrasavam um passo em conjunto, atrapalhavam a sincronia das nossas mãos cheias de terra seca juntas. Deixava escorrer pelos pés o caminho de volta pra casa que não tínhamos. E o beijo que não demos secava sempre que insistíamos em correr pelo parque, pulando cada lombada entre os carros avulsos na rua sem sinalização. Só com um sinal de verde, pra sempre seguirmos adiante. Nunca parando nas quebradas, nunca nos cortando nos cacos vidros espalhando pelos arredores dos postes. Tínhamos 3 ao todo pra iluminar a cidade.</span><br />
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
Eramos vampiros do escuro. Sugadores de esperança, e desesperançosos quando o assunto era amar um passo dado no mesmo segundo, eramos inválidos quando o assunto era a fila do INSS, e eramos os primeiros quando tratava-se de sexo explicito em frente à uma creche de crianças cegas. Eramos desafiadores do destino, até que ele nos carregasse no colo e nos mostrasse o reflexo do espelho que nossa alma estampava.</div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
Eu, a delirante idosa com mãos enrugadas, com cílios esbranquiçados, com cabelo em coque e com os dentes amarelos, naquele dia - por sorte, completava 12 anos. Joguei pedras ao espelho, numa tentativa vã de fazê-lo entender que estava errado. Que eu tinha por direito os 53 anos que passei correndo pelas ruas escuras, sendo abusada por caminhoneiros, e colhendo milho na lavoura que eu imagina ter sido do meu pai. Estampava juventude naquele vulto amarelado, mas estampava “Olhos mortos” como título da minha vida. Assim chegando perto avistei o que temia. Enxerguei-me despida, com seios brotando, com boca rosada e cabelo avermelhado. Chorei por 12 segundos, que se estenderam à 16, ao olhar para meu amado.</div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
Cabelos negros, deslizantes aos olhos dos comuns. Olhos castanhos, e fantasiado de Capitão América. Ao chocar-se com o espelho, seus cabelos grisalhos foram o primeiro susto que se antecederia à sua morte. A bolsa que seus olhos carregavam daria para levar consigo todo desgosto por ver suas mãos mortas em frente ao espelho que esfaqueou seu coração já gasto. Perecendo assim em frente à imagem que nunca teríamos de nós mesmos.</div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
E por 50 anos vivemos a mais bonita e enganosa história de cadeia que poderíamos contar em qualquer geração do 1° de abril.</div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #3a3b3b; font-family: Cambria; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-14624088034656587602013-04-03T09:41:00.001-07:002013-04-03T10:28:39.433-07:00Volte pra casa<span style="text-align: justify;"> Amor, eu só digo adeus quando sei que você vai voltar. Você sempre volta quando estou indo e por isso me recuso a ficar. Olha pela janela, faço vigília todas as noites e ainda chamo o teu nome pela janela, mas nenhum sussurro vem a mim com um recado teu. Você nunca vem? Você nunca vai e assim só somos despedidas. Somos o dobrar da esquina e o tropeçar no meio-fio mal colocado na rua que nos beijamos pela primeira vez. Amor, esse é o meu fim? Sempre usando a mentira como escudo e a ilusão como esperança? Você me vê caída numa poça de lágrimas, você me vê afogada no fundo do poço e não me salva? É só um passo, é só uma mão e tudo o que você me deseja é a morte. Pois me recuso a morrer enquanto teus pulmões ainda estão claros e sem nenhum câncer</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
Me recuso a ir a algum lugar que não seja ao teu lado porque o céu aqui não tem piedade dos ateus, nos jogam na sargenta e nos fazem implorar o mar como pedido de natal. Vivo nas ruas vazias a espera de um empurrão, a espera de que a terra se abra sob os meus pés e eu voe inferno abaixo só com uma lágrima no rosto e outro inferno nos olhos. Lágrimas essas que se confundem com as mesmas lágrimas que chorei por saudade, lágrimas que chorei pela tua ida, lágrimas que se recusaram a ficar e ver o resto do meu corpo escorrendo pelos olhos, pelas mãos, pelos pêlos e pelos pés cansados de te procurar somente onde você não está. Você não vem? Me empurra, me espanca até a quase-morte e me diz se você vem. Meus cabelos perdem o brilho assim como os meus olhos e eu não sei mais o que vivi ou o que imaginei viver. Amor, estou tão perdida que o céu estava em tons de azul e eu o vi num tom de castanho dos teus olhos. É assim que o a loucura nos toma como reféns? É assim que o mundo começa a girar de uma maneira que nem o sinto de segurança nos salva da morte?<br />
<br />
Amor, eu não quero quebrar o pescoço num acidente de carro, eu quero quebrar todos os meus ossos em cima do teu corpo nu e me refazer depois de um, dois, três orgasmos. Eu quero que a lágrima depois do sexo se confunda com a lágrima depois do adeus e eu comece a chorar por não saber sorrir. Amor, como você ainda sorriu ao me ver jogada as traças? Como você me construiu com diamantes pra depois me jogar aos porcos como vidro barato? Foi pura maldade você me amar. Foi puro desprezo você me beijar. Foi puro nojo o nosso sexo de cinco minutos. Foi puro, tão puro quando tua áurea no meu céu na boca. Amor, esse é o meu fim. Fui só 90 minutos de uma vida inteira, fui intervalo de um amor, fui o trailer da sua história e sinopse da tua história de amor fracassada. Fui a virgindade dos teus dedos ao escrever, fui boca seca ao te ver, fui olhos vermelhos ao te ver partir. Amor, eu sou tudo o que você não pode aguentar por ser sonhador demais, por querer o mundo na palma da mão e esquecer que tenho mais de um metro e setenta de puro desprezo a quem ama. E só assim vou recuando, recusando, voltando e voando. Assim vou me recusando, recuando, indo e nunca voltando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amor, me recuso a ficar pra não te ver indo embora outra vez.</div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-19723051699878539592013-03-21T08:03:00.001-07:002013-04-03T09:42:17.483-07:00Um dia de você<div style="text-align: justify;">
Me vejo na esquina dos teus olhos, prestes a saltar e rolar pelo rosto tão devagar a ponto da tua pele me absorver antes que eu chegue a sua boca e me torne sua saliva. Aquela que vai respingando enquanto você grita com teu reflexo na frente do espelho. Insisto em descer pela tua garganta e desatar esse bolo de nós recheados do que nunca quis ouvir. Quero me misturar com o teu sangue e correr pelas tuas mãos ao se acariciar num dia vazio, quero ser o teu orgasmo inacabado, aquele que ficou pela metade por que um menino de rua tocou tua campainha. Quero voltar pelo teu estômago e te enjoar, quero te fazer me vomitar até que a náusea te desmaie e te force a não querer sair de casa por semanas. Quero me tornar a sujeira nos cantos que a água não toca no teu corpo, quero descer aos teus pés e me guiar até onde você possa me encontrar numa estrela próxima a Saturno. Quero te ver me vendo de outros olhos ao chorar. Quero nascer onde tua dor faz morada e não sair de lá até que sejamos todos nômades novamente. Quero me embrulhar nos teus presentes e mesmo quando a solidão te tomar como refém, eu estaria na sujeira do carpete, descendo pelo ralo do banheiro, sujando a pia da cozinha e sendo tua saliva amarga no começo do dia, eu estaria. Por que cada lágrima tua no meu rosto, sou eu voltando pra você.</div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-85779351802706969602013-03-11T15:30:00.002-07:002013-04-03T09:58:42.406-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://24.media.tumblr.com/b681093882afc675a32d05b697375c2c/tumblr_mfg5r9DUZs1rx9jwao1_500.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://24.media.tumblr.com/b681093882afc675a32d05b697375c2c/tumblr_mfg5r9DUZs1rx9jwao1_500.jpg" width="640" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-80576237385551453542013-03-11T11:07:00.001-07:002013-04-03T09:42:58.622-07:00<div style="text-align: justify;">
Somos um do outro quando o silêncio entre nossas mãos falam mais que os nossos olhares. Somos um do outro quando tua cabeça se encaixa no meu ombro e nada nos incomoda. Quando tua presença é a unica coisa que importa na rua agitada, quando nossas risadas atravessam quarteirões e alguém me inveja por te ter tão perto. Quando teu cheiro cola na minha roupa, quando teu braço me protege e o resto do mundo só parece o resto. Somos um do outro quando o céu se faz bonito só quando você está por perto, quando as constelações são só pontos cegos na escuridão, quando nossos olhares se cruzam e não há nada que nos impeça de errar a direção, quando tua mão na minha cintura me serve como armadura, quando o cheiro do teu cabelo é o mesmo cheiro da tua camisa, quando um cílio cai e não precisamos fazer um pedido porque temos o que nos basta.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Somos mais o outro do que um nas tristezas que desaparecem quando um sorriso surge. Somos mais que as lágrimas de saudade, somos o que passou de uma má vontade, somos um acidente bonito. Somos uma história de amor ainda no primeiro capitulo. E carrego comigo a possibilidade de te amar por vinte vidas e ainda não sermos suficientes.<br />
<br />
Amar não basta, ficamos então com a eternidade que o amor pode ser. Somos a chance de sermos eternos.</div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-33296236320648415812013-03-11T11:04:00.001-07:002013-04-03T10:11:19.376-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
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</div>
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<a href="http://24.media.tumblr.com/d7cf3b78d7bdc8e63bac17d9ad137e09/tumblr_meugxqvSu31qfpfjgo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="477" src="http://24.media.tumblr.com/d7cf3b78d7bdc8e63bac17d9ad137e09/tumblr_meugxqvSu31qfpfjgo1_500.jpg" width="640" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-15933165866329189302013-02-03T07:46:00.001-08:002013-04-03T10:14:34.418-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFqCT0RCvNBQFohAQut6cyKg3gtjgp8asWkZw0HBADLatFjA5aecv4d8a9rRioQI47G4hji1hWSGRV8c0OJd47poHTOvmCLx5SPew8lcGT-3qETB3pWkKIkPym7ryVAyqXfIdpP9lwU0/s1600/BDNH3crCEAAp3Ay_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="462" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFqCT0RCvNBQFohAQut6cyKg3gtjgp8asWkZw0HBADLatFjA5aecv4d8a9rRioQI47G4hji1hWSGRV8c0OJd47poHTOvmCLx5SPew8lcGT-3qETB3pWkKIkPym7ryVAyqXfIdpP9lwU0/s640/BDNH3crCEAAp3Ay_large.jpg" width="640" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-39847477821446546522012-12-01T18:12:00.001-08:002012-12-01T18:16:05.728-08:00Eu, delírio - Aquele ultimo beijo [Parte 2]Sentados ao som de Live forever - uma das minhas preferidas, esperamos uma consulta que não chegava. Mas que poderia ficar lá para sempre, pois ao meu lado tinha o par de olhos que qualquer céu desejava. Castanhos escuros, mas o notava azuis sempre que ela perguntava:<br />
- Já são 7h?<br />
Eu estava sem relógio, mas sempre dizia:<br />
- Faltam 15 minutos para alguma coisa não acontecer.<br />
Mudavam-se os cenários e lá estávamos orando em silêncio, mas em alta voz:<br />
- Querido Deus, se você pode me ouvir agora, não diga nada. Mas dê-nos a mão para passarmos nessa ponte.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Não havia ponte, ruas, estradas nem encruzilhadas. Não havia nada lá além do silêncio ensurdecedor, além de alguém perdido. Alguém que não sabia pra onde ir, mas que continuava a andar. Alguém que procurava amor na brecha do casaco que mostrava o colar de camafeu. Procurei por Liza por toda a noite até me dar conta que não sabia como respirar, e nem porquê as espirais caiam como flechas no campo do qual eu fugia. Não ter pra onde é sempre uma maneira de chegar. Logo me cobri com o que restou de nós e a alcancei como se cada passo que eu desse fosse o ultimo. Como se depois de tê-la agarrado pelo braço, minhas pernas não funcionariam mais e eu estaria sempre preso na lembrança que se desse um passo a mais você seria minha.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então a segurei em silêncio por tanto tempo que quando a senti não soube o que falar. Os ensaios foram todos em vão, os olhares em busca de outro olhar foram correspondidos e não havia ninguém dentro de mim naquele momento. Estava fora de mim, tranquei a porta e olhei pelo olho mágico um garoto distorcido entre o medo de amar e o medo de morrer por não ser amado. Volto pra dentro de mim e no instante noto seus olhos em direção ao meus, com os lábios frios e uma pergunta em sua testa. A beijei. Como se depois daquele beijo o mundo fosse explodir e nenhum de nós sobreviver para olharmos nos olhos e desejar o infinito. A beijei como se a boca que usasse não fosse minha, nem os lábios que encostassem nos meus existissem. Quem me dera respirar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Três meses se passaram e a banheira parecia um oceano em turbulência. As lágrimas jorravam como se em cada lágrima saísse uma lembrança do ultimo primeiro beijo que demos. Não éramos ninguém naquele cenário de loucos e mesmo assim fizemos nossa história ser escrita como se entre nós já houvesse amor. Atrevo-me a dizer que tive 48 primeiros beijos e nenhum amor de verão. Choro junto com o céu ao perceber que tudo ao meu redor só é visto ao meus olhos quando estou amarrado nas minhas próprias mãos, para não amarrar cordas ao meu pescoço. Minha mãe bate na porta, grita o meu nome e eu esqueço quem fui nas horas passadas. A partir daquele momento eu era Quimi, o louco. Quimi, o que não era louco. Quimi, o que liga para o 911 doze vezes ao dia porque tem um monstro no meu armário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Descubram-me mais que o que vêem. De mim só sabem o que eu quero que saibam. Então digo com cautela: Aqui vos fala o louco, o médico, o dragão. Aqui vos fala o amor. O garoto que tem cem anos ao amanhecer e dezesseis ao dormir. O garoto que tem Michael como melhor amigo e pipas falantes ao teto do quarto. Aqui vos fala quem não sabe cantar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Era sempre assim.<br />
Outro feriado, mais um pôr-do-sol e ninguém à vista.<br />
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho<br />
<a href="http://eudelirios.blogspot.com.br/2012/09/eu-delirio-ii-aquele-ultimo-beijo-parte.html" target="_blank">Eu, delírio - Aquele quase ultimo beijo </a> II<br />
<a href="http://eudelirios.blogspot.com.br/2012/07/conto-i-eu-noel.html" target="_blank">Eu, delírio - Crônica - Introdução</a> I</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-53464993599404613652012-11-30T18:20:00.001-08:002012-11-30T18:24:26.256-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://24.media.tumblr.com/tumblr_me8h55HDwd1qmss6yo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://24.media.tumblr.com/tumblr_me8h55HDwd1qmss6yo1_500.jpg" width="640" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-51998034398373592282012-11-27T11:25:00.003-08:002012-11-27T11:25:36.452-08:00A carta que não pude escrever, e olhos cantaram pra vocêSobre a saudade que eu não sinto.<br />
Sobre o cheiro da tua nuca, e sobre o que nunca tivemos coragem de falar.<br />
<br />
Amor,<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Aqui fora o dia não nasce, as horas não passam de tiques com barulhos alucinantes. A água do chuveiro me afoga, mas não me limpo. Me alimento como nunca, jogo o meu coração na panela, e nem com vinho tinto ele desce pela garganta. Parece rodeado de facas com teu nome em cada ponta afiada, que desce cortando as minhas cordas vocais, pra que eu perca a chance de gritar o teu nome quando não te ver passar pela minha porta. Amor, eu preciso que você saiba que foi tudo por amor. Os tiros que dei ao alto, as facadas que dei nas suas costas, as rasteiras, os empurrões da escada. Todos os ossos seus que fiz questão de quebrar, foi por amor. E ninguém pode dizer que não havia amor na ponta dos meus dedos quando envenenei seu ultimo chá da tarde. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa carta não é pro que pensamos em viver quando estávamos mortos, essa carta é para que lembre que pude amar cada pedaço sujo seu. Cada dedo sujo de sangue, cada passo coberto de lama pelo tapete da sala. É uma carta de enfeite ao seu cemitério ao meu lado na cama. Para que nunca esqueça de lembrar que nada é pra sempre, ninguém morre sorrindo e que transar contigo foi o erro que cometemos toda noite porque nos fazíamos de dementes ao prazer. Morríamos em orgasmos imundos, e nada lá fora importava. O meu ar chegava as tuas narinas e nem assim eu era suficiente pra receber seu perdão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas amor, o seu ultimo gole, o seu ultimo beijo e o seu ultimo poema não foram para mim, foram? Encontrei endereçado as tuas malas, tuas melhores roupas e um bilhete escrito com seus olhos imundos que não dizia: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Se te desse adeus, faria você pensar que um dia já fiquei?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ri ao ver tua letra engarranchada, ri ao entender o que você não quis dizer. Nunca ficamos por completo porque somos peças quebradas sem encaixe. Com defeito de fábrica por não saber amar, por não saber ver o sol se pôr sem encher os olhos de lágrimas vazias. Somos quebrados, somos os cacos esquecidos debaixo do tapete e assim que temos a chance, fazemos pés sangrarem até notar que os olhos se foram. Cortamos veias, laços, braços e deixamos que o tempo não nos diga quem amar. Nascemos pra enganar a morte, nascemos ao morrer no fim da escada que foi onde declaramos amor eterno. Mas amor, não esqueça de lembrar que só posso ser eterna pra mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
À você um ultimo gole da sua xícara com chá envenenado, uma lágrima de saudade e senti o cheiro da tua nuca no meu ultimo suspiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Chego às 7h, meu enterro é às 9h.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre a sua,</div>
<div style="text-align: justify;">
Saudade.</div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-50105096723426607362012-11-26T14:58:00.001-08:002013-04-03T09:47:00.707-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/52014687/tumblr_m4hw4wlvau1qbb77eo1_400_large.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="480" src="http://data.whicdn.com/images/52014687/tumblr_m4hw4wlvau1qbb77eo1_400_large.png" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-84693689771029994222012-11-13T16:32:00.002-08:002012-11-13T16:32:17.895-08:00O que eu não disse,o que eu não fui<br /><br />onde não andei, quem não beijei<br /><br />onde transei, os vales por onde me perdi<br /><br />de quem achei, e me escondi<br /><br />há sempre um fantasma na sombra de quem se esconde<br /><br />atrás das sombras de outras sombras.<br /><br />mesmo que rabiscadas num papel já usado<br /><br />mesmo que enferrujadas num beijo não dado<br /><br />mesmo que morto e não enterrado.<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-54078372609825593252012-11-13T16:31:00.002-08:002013-03-11T15:37:16.319-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://24.media.tumblr.com/tumblr_mc0qp6olsr1qi6tsio1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://24.media.tumblr.com/tumblr_mc0qp6olsr1qi6tsio1_500.jpg" width="464" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-52612369840528025522012-11-13T16:30:00.001-08:002012-11-13T16:30:10.058-08:00Quero uma,<div style="text-align: justify;">
quero duas fotos dos seus pés.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
três passos com o esquerdo, dois com o direito, e você cai no tesouro que é a minha cova.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
faz da minha cama nosso cemitério, me enterra nos teus cabelos, me faz navegar pelas tuas veias, dando voltas incessantes por cada nó que teu dado programa pro próximo fim de semana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
não me beija.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
me usa como um cigarro barato, me joga fora na metade e me deixa queimar até o filtro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
me deixa ser usada por alguém, só por curiosidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
me passa de mão em mão, até ninguém mais querer me olhar com seriedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
me dá uma foto dos teus pés, pra que nesse caminho jamais eu erre novamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
[…]</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
não tenho fim,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
mas morro em cada boca que me usa.</div>
<div style="text-align: right;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-52367821623375826262012-11-12T15:08:00.003-08:002012-11-12T15:08:42.378-08:00Uma saudade,<div style="text-align: justify;">
outro desespero.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
alguém some na vizinhança, aparece uma estrela a mais no céu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
o rio beira os meus pés, me afogo no reflexo dos meus olhos fixados numa estrela prestes a cair da ponta da lua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ninguém vai voltar pelas promessas, os trens não param, o tempo é recarregado de três em três meses em bateria de relógio no topo de prédios prestes a explodir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
a fumaça me alucinou, mas dos teus lábios provei o teu veneno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
morri ao amar desesperadamente uma saudade que não vem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hélida Carvalho</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-3242010871407571392012-11-12T15:08:00.000-08:002012-11-12T15:08:01.982-08:00Cuidado com o degrau,<div style="text-align: justify;">
e vê se tropeça em mim, cai no meu corpo e me quebra como um copo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
assanha meu cabelo, mas não desliga a tv, deixa o vento assoprar nossa novela, esquece a luz e acende uma vela</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
o nosso programa preferido é vender os corpos, deixar nossas almas no fundo de uma bau dentro uma xícara de chá, mas nada mais nos remedia</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
a lua lá fora se faz fria, derrama seu choro azul castanho escuro em cima dos nossos telhados, e nos emaranhamos em seu cheiro de pequeninices</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
cuidado com a porta, a fechadura quebrou, e você terá que entrar pela janela</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ou entra pela fechadura que a porta da janela quebrou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
cuidado com o degrau, pois você é o tropeço no ultimo andar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hélida Carvalho</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
luas</div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-66602123509411447242012-11-06T17:24:00.001-08:002012-11-06T17:24:31.314-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://24.media.tumblr.com/tumblr_mcubt2dBqv1qmggloo1_500.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="630" src="http://24.media.tumblr.com/tumblr_mcubt2dBqv1qmggloo1_500.png" width="640" /></a></div>
<br />Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-86484876348021492622012-11-03T18:06:00.002-07:002012-11-03T18:06:56.889-07:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">"As relações humanas são estranhas. Quer dizer, você passa um tempo com uma pessoa, comendo, dormindo, vivendo e amando, conversando com ela, indo aos lugares – e, um dia, tudo acaba."</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Charles Bukowski</span></div>
Hélida Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/08620999040246468642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1424362926474611385.post-82916763853111142792012-11-03T18:04:00.000-07:002012-11-27T12:59:46.283-08:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/29601352/5719607609_c4b18ae5e3_z_large.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="616" src="http://data.whicdn.com/images/29601352/5719607609_c4b18ae5e3_z_large.jpg" width="640" /></a></div>
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