domingo, 15 de janeiro de 2012

Abel, carta I.

Te escrevo de um lugar, onde não é habitado por ninguém a anos. Por aqui tudo é muito desinteressante, nada é comodo; tudo certamente sempre incomodo. Diferente do mundo em que vivemos, aqui a noite é interrupta; mas estrelas não são tão aparentes por aqui, as vezes uma cai em direção a mim, tento pega-la mas é em vão. Por aqui o sol nunca vem, sempre é sombra; mesmo sem ter arvores ou casas por perto. Vizinhos nunca são bem recebidos, daqui a vista não é favoravél em nenhum angulo, não há paisagens.

Certo dia estava passeando pela escuridão e tropeçei em algo não muito importante naquela época, era só você. Ao chegar no fim do mundo, notei que algo diferente em mim; no momento daquele tropeço onde tu me tocaste tinha fagulhas;espinhos. Algo somente não fazia sentido, minha pele pinicava, me fiz sangrar querendo que aquela sensação fosse embora e junto com ela esse vago pensamento de quem era você. Outro dia, resolvi tirar poeira dos movéis; aqui onde estou o vento não é o meu melhor amigo, me trata como se não fosse de casa; traz ventanias tremendas, me fazem segurar na beira da cama e só me soltar quando tenho a certeza que todo aquele medo em forma de vento se for. Catei alguns panos velhos, começei a tirar as toneladas de rancor de cima das minhas costas, dos movéis menores resolvi tirar só a ilusão e a dor. E então me estiquei por horas para que do telhado eu pudesse retirar as grandes pedras, como todo o ódio e solidão, que só fazem a poeira ficar maior e mais violenta dentro do meu sentir. Me senti nesse momento como uma árvore, que tem galhos pequenos mas que quer tocar no sol; me estiquei, e fiz por onde; nada lá restou, nem pequenas faíscas de pó.

Foi na limpeza dos movéis que consegui ver que onde eu morava era uma casa, e que dela poderia fazer abrigo de alguém, enchi o vaso d'agua de esperança e assim fui em busca de frutos de afeto, saí perambulando a procura de algo que pudesse dar beleza a minha moradia e talvez algo que pudesse comigo conviver nesses dias limpos que viriam semanas a frente. Tomei um banho, deixei que fosse comigo tudo de não aproveitavél.. confesso que me senti uma pessoa melhor depois dessa breve limpeza. E então fui em busca do que procuro a tanto tempo, dessa vez não tropeçei em você, você lá estava morto. Como tão tola de pensar que alguém estaria no chão de alguma maneira tivesse vida, tropecei em um cadavér.

Mas como esse mundo é meu, cada parte dele me pertence; peguei você no colo e trouxe até a minha casa, cuidei de você dia a dia; vi seu cabelo crescer, teus olhos começaram a se acender, tua boca em tentativas nada convincentes tentavam juntar as palavras, começei a sentir teu calor sobre o meu corpo, o aperto da sua mão quente sobre meu corpo nu e frio. Imediatamente ao teu toque, senti meu corpo tão quente como nunca; me vi nua a tua frente e nenhuma faísca de vergonha pude sentir, porque a explosão que acontecia dentro de mim eu jamais deixaria escorrer. Deitei-me sobre ti, e horas a fora conteplamos a beleza de ser luz.
Foi assim que o sol nasceu, a primeira vez em que o vi estava totalmente desprovida se mascaras.
Era eu, você e o nosso sol.
Hélida Carvalho.

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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