quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Você volta e revira
transpira
inspira


“Em que beco nos perdemos, amor?”
“Sou tua sombra.”

As esquinas que dobrou agora dobram você e te vejo do ponto cego da sacada, com passos maiores que os pés
tropeçando nas próprias pernas
e perdas
soltando penas
pedaços nossos que nunca foram colados

Eram partes mortas abandonando um corpo já abandonado
cheio de marcas
de facas
lágrimas
desgraças tatuadas

Que escorrem e nos escorrem pelo ralo
nos entalam como uma mecha de cabelo
como duas mechas de cabelo
como teu pé tropeçando no próprio pé
como tua boca que fala mesmo enquanto cala

"Depois de tanto tempo."
Quanto tempo se passou nesse passar de tempo
e o vento mostra que ainda somos os mesmos
entre tantos meios
e fins
entre tantos,
eu só escrevi pra você

Seguindo instintos
querendo o eu em você, que clama
que chama

"você não me deu adeus."
“nunca parti.”

Em quantas partidas morremos
em quantas falhas acertamos
em quantas coisas que não foram nos percebem

"Eu."

As esquinas que dobraram você agora nos espiam
avulsos
com o pulso saltando, fazendo labirintos
pelo teu
meu
corpo

Não pára pra observar o que vem vindo
não corre
não tropeça
não se faz do que não somos mais

Saudade
Vontade

De tudo que não ficou porque estamos no olho do furacão que só corre
vigia
espia
faz vigília

Faz da nossa saudade, oração
faz das noites, dias
das ruas, becos
dos ecos, os peitos abertos

voltando pra quem nunca foi;
você

diga a eles
que correm
morrem

diga a eles que
voltei pra quem nunca saiu de mim
você

entre tantos tantos
entre e fecha a porta
“Eu voltei.”



Entre tantos,

só escrevi pra você.
Hélida Carvalho

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mais alto que bombas

Sobre as cartas que nunca tive coragem de mandar
sobre o cheiro do teu travesseiro no meu cabelo
sobre sempre querer fugir mas não ter abrigo

Sobre sempre estar indo na direção contrária do pôr-do-sol
sobre imaginar nossas lutas em céu aberto
sobre você me salvar cada vez antes que eu tropece nos próprios pés
sobre segurar na sua capa e voarmos pra cada vez mais distante do que não nos torna eternos
sobre sua mão ser o meu troféu
sobre os seus olhos cansados serem as lágrimas dos meus

Sobre o que não pode ser escrito por ser real demais,
sobre que não pode ter sido, sobre o que foi
ou ainda será

Será que podemos voltar ao dia que éramos completamente estranhos a aurea um do outro e nos encatarmos mais uma vez? Pedir mais um favor, puxar mais um assunto, mandar mais uma musica, um texto, uma risada e um desabafo? Podemos voltar a quem éramos antes de sermos somente nós dois e tudo que nos preenche? Posso voltar aos dias em que te lia como se você estivesse ao meu lado cantando suas crônicas  e me fazendo sair de mim pra te encontrar em algum lugar lá fora? É lá que eu moro, no encanto de estar te conhecendo pela primeira vez todos os dias

E nessa busca sempre voltar por estar indo longe demais
ou caminhando menos
ou parar esperando algo que não pode chegar mas que insiste em sempre vir

É um buraco na rua que desequilibra, uma pipa nos fios do poste, o meio-frio metade branco e metade cor da preguiça de quem lá deixou, uma meia lágrima, um texto sem fim, uma foto estranha de quem realmente somos mas que soa tão sem graça sem nenhum filtro ou sem nenhuma pose, sobre um sonho inacabado por estar atrasado pro que não muda, sobre a duvida de quem ser, do que ser e de como ser quando não se sabe ser ninguém além de você mesmo. É o ônibus que não vem, alguém que pede o lugar, alguém que rouba o celular, paciência, coração e moedas no bolso. É não saber o que falar até que algo tenha que ser dito, é quem somos quando ninguém nos vê, quanto ninguém nos sente e ninguém nos sonha, é aquela musica que me toca e te ouço mesmo com teus silêncios. É o acaso que nos torna amantes do raro e você é tão raro quanto todo repetido pôr-do-sol que alcança a minha janela e implora pra ser visto. Você é toda lua cheia, toda tempestade que fecha o quarteirão e assusta quem sente pouco. Toda poça d'água que é feita do que te fere e atinge todo mundo ao redor mesmo quando não chove. Talvez seja também aquele sopro que vem do nada e me manda embora quando eu só tenho como opção ficar, mesmo que sempre indo, mesmo que nunca existindo. Mesmo que mendigando uma presença tua em cada passada, em cada estrofe, em cada choro por não ter você mesmo sabendo que nada te faz mais meu do que você já ser.

Te queria por um dia dentro dos meus olhos te olhando como te vejo
como me escondo em cada traço do teu rosto
mesmo que nas olheiras de noites não dormidas
mesmo que no riso frouxo, aquele que não te pede e só grita
mesmo que te veja planejando o futuro com base no que você sonha a noite
não sabendo que você só sonha de olhos abertos


Quando se perde dentro da imensidão que você não sabe que é e não te encontro em canto algum dentro de si mesmo tão perto de mim. Poder sentir teu próprio perfume e saber que é como uma droga pra mim. Se abraçar e saber que é lá que eu quero ficar até que o tormento acabe, te dar a mão e caminhar consigo mesmo até que perceba que eu também sou você e perdidos nos procuramos sem saber que já estamos aqui. Aqui nessa confusão que é tirar o cabelo do rosto trinta vezes por hora pra te enxergar da maneira mais limpa e bonita que posso, mas também me esconder atraves das mechas que me escondem de você. Aqui nesse eterno beco sem saída que é não ter pra onde escapar quando te vejo morrendo em cada indecisão, em cada sonho que não vai ser sonhado mais de uma vez, em cada afago que perde o valor. Se olha dos meus olhos e repete que nunca me deixará ir embora de ninguém além de você.


E em caso de não ter pra onde ir, te espero em casa
onde tudo é tão pequeno perto do que temos
e de quem somos quando temos um ao outro
que não sei ser só

Pra um coração que sempre bateu fora do peito e usa palavras grandes como sempre, nunca, amanhã e nós
Eu amo você, meu bem. Hélida Carvalho

terça-feira, 14 de maio de 2013

As notas daquele rodapé

Metade do assoalho velho despencava e ninguém mais notou que eu me escrevi em qualquer parede que lembrasse o branco que fazia contraste com os seus olhos emaranhados em bombas guardadas no oceano que escorria pela brecha da janela quase fechada. Enfeitei como se cada poesia nossa fosse aniversariante por me fazer ter mais um assunto, por notar mais um trejeito, por satisfazer esse libido que não deixa o arrepio da espinha em paz, que desce até a virilha e lembra quão mortal e involuntários somos ao nem sentir o que sentimos. Quem dita as regras sobre como seria esse fim miserável de alguém que nem sabia amar? Amor, estou sempre escrevendo para um fantasma que nunca me deixa ir a lugar algum e assim estou sempre voltando pra mim porque não sei pertencer a lugar algum que não me caiba, como não me coube em morar na sombra dos seus olhos, num passo atras do seu, num cabelo que cai no rosto, na chuva que tomo enquanto chego a sua casa, no chá sem gosto que você me faz, no orgasmo que não tive, na dor que me causou e aplaudiram como se fossemos passatempo de uma platéia entediada, num cílio na gola da camisa  no beijo que era pequeno demais para caber metade de mim, no adeus sem olhar pra trás pra checar se eu estava voltando ou indo de uma vez, no circulo que o nosso passo fazia e ninguém ao redor percebia porque eu ainda contava nossos últimos passos e no desprezo por não acreditar mais no que aconteceria se algo nos acontecesse e aconteceu. Aconteceu o nada que sempre temíamos acontecer, vir como uma onda destruidora procurando a paz que não existe e levasse-nos como pobres formigas a beira mar, como se nossas vidas fossem moedas velhas jogadas aos mendigos de calçada. Aconteceu que os muros da cidade se estreitaram e nenhum dele me coube, nenhum me acomodou como o céu da sua boca ao me deixar. Aconteceu que os meus discos não me ouvem mais e tudo o que os meus vinis fazem é ocupar espaço e juntar poeira, aconteceu que nossas fotos perderam o brilho, aconteceu que o meu pé torceu, seu cabelo cresceu, ninguém sabe realmente o que aconteceu. Você aconteceu antes de qualquer palavra ser riscada ser direcionada pra você, antes de qualquer final feliz ser escrito, você apareceu e eu perdi o rumo da história. Eu perdi o caminho e estou perdida nessa rede de luas que contornam a janela do meu quarto e de lá vejo toda chance que eu perdi se você não estivesse tão perdido quanto eu.

As notas daquele rodapé são as cartas que não assinei, os beijos que não dei, o adeus num ultimo abraço, a reticência da nossa poesia, o sangue que escorreu das brigas que não tive coragem de enfrentar, o medo do escuro. Eu era tudo aquilo que não podia ser feito e ainda assim fui.
Hélida Carvalho

domingo, 5 de maio de 2013

La-gri-ma

Amor,
a história mais antiga do mundo
um começo
um meio
outro fim.

Somos duas bombas caseiras prontas pra devastar qualquer quarteirão.
Agora eu entendo. Por tanto tempo foi tão bonito olhar o céu dos teus olhos que ao tentar andar caí. Caí de um prédio de vinte andares e ainda assim nada me dói mais do que te ver indo embora outra vez. Outra vez que nos confundimos e você virou a esquina errada, eu bati no poste e você morreu. Eu amei e você correu. Eu e você. Sempre essa dor ambulante com mais de quinze anos e ainda não tendo a paz merecida. O que fizemos, amor? Em que esquina nos perdemos e aceitamos a condição que não fomos feitas pra durar? Em que dor se perdeu esse amor que não nasceu mas que morre a cada passo que você dá ao contrario do caminho que tracei pra nós.

Você já foi minha alguma vez? Você já prometeu ficar e foi embora segundos depois? Você sabia que a dor que eu tenho num lado do peito pode cobrir você e te afundar até o mais sombrio pesadelo da sua mágica mente? 
Amor
Amor
Por que pensar tanto se nada tem outro meio
Por que não aceitar que somos fim e que prolongar isso seria só colocar mais um fim após o outro e outro e outro
e nos fazermos eternas enquanto o mundo lá fora nos rebate e nos joga em qualquer calçada imunda
ou nos tranca em um quarto arrumado como cemitério
Na sua cama tem sonhos?
Você tem sonhado ou morrido a cada vez que encosta ao travesseiro e chama por mim?

Eu nunca estou lá
Eu nem sei quem sou e por isso não te digo onde me escondo

Você está perdida
Tão lindamente perdida quanto eu e as palavras se perdem conosco e nos enfeitam
mostrando que não existimos além do que sentimos

Não seriam suficientes pra demonstrar o quanto transbordo (com todas as silabas separadamente) amor quando você encosta em mim e diz baixinho que sou doce
quando o  resto (todos eles que joguei fora)
me provaram como fel

Amor, você foi embora ou está escondida atrás dos meus olhos?
ou talvez embaixo da cama onde escrevo essas milhares de cartas que não dizem nada mas que insisto em escrever por tentar
tentar tentar
tentar vomitar o que senti quando você me apunhalou e me beijou na mesma semana
e por dias só consegui pensar quando você voltaria pra me machucar mais uma vez

E percebi que não sou nada quando você não vem
que a água do chuveiro é mais fria e que se tomo remédios a mais fico quase cega
caindo pelos cantos tentando mandar esse amor embora
como a tv fica desinteressante a ponto de me fazer assistir cada programa de tv
como toda musica toca e nenhuma nos ouve porque você não está aqui
mas cada pedaço seu toma o meu corpo como se eu nunca tivesse morado em mim
esse amor que toma o meu corpo como um câncer em fase terminal
me fazendo morrer cada vez que fecho os olhos e você não está lá

Você já ficou algum dia?
Você vai voltar na próxima década e eu não vou dizer tudo o que eu tinha pra dizer porque eu não sei como
você tem tanto de mim e isso é o teu pecado
não fomos feitas pra durar

Sem o sentido que trago, te ver com qualquer outro é um inferno
porque seu amor é meu por obrigação
você me tem tanto e me joga tanto
me joga em cada palavra que escapa da sua boca e por acidente me faz morar em você por mais um semestre
me joga em cada mesa de bar, me aposta como se eu não fosse tão valiosa quanto os 500 reais na sua carteira
me joga como um cigarro que não fumou até o fim por preguiça
eu sou um tédio, amor
vamos jogar tempo fora

Volta pra casa
se eu ainda for a sua

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Todo mundo se esconde


   Como tudo que passa por nós como um vulto, como uma sombra que nos segue sem pedir a mão, como os cabelos que se despedem ao cair nos olhos, como o cílio que não pede permissão e vira desejo. Tudo o que sobrou de nós foi o despercebido, o resto de ilusão que nos ocupou por meses antes de preenchermos o tumulo e nos enterramos em verdade. Somos agora o instante, a placa STOP antes do abismo, o prendedor de cabelo, o cortador de unha, o bocal da caneta. Somos a segurança de fazer as coisas que não existem ficarem. Ficarem por medo de ir embora. Ficar, porque ir embora não tem mais valor. Ir embora, porque me afogo nas dores que foram um oceano no travesseiro e mesmo assim ninguém me ouve. Choro nos pontos mais altos da cidade e ninguém faz coro, ninguém pede silêncio, ninguém me viu passar. Ninguém pediu a mão, o colo, o silêncio e o ficar. Ser tão invisível não era problema, amor. Até que você morreu e agora não sei que direção tomar ou em que abismo me jogar. Vivo dias que se emendam em meses, se entrelaçam em anos e ninguém me afaga os cabelos, ninguém é seguro a ponto de me fazer ficar. Amor, tudo ao meu redor é ilusão. 
Hélida Carvalho

Espelhos que mentem

   Imundos, velhos, jovens, perdidos. Encontrados num vilarejo de pouca fé, muita esmola, muitos quebra-molas e pouco amor. Lombadas que atrasavam um passo em conjunto, atrapalhavam a sincronia das nossas mãos cheias de terra seca juntas. Deixava escorrer pelos pés o caminho de volta pra casa que não tínhamos. E o beijo que não demos secava sempre que insistíamos em correr pelo parque, pulando cada lombada entre os carros avulsos na rua sem sinalização. Só com um sinal de verde, pra sempre seguirmos adiante. Nunca parando nas quebradas, nunca nos cortando nos cacos vidros espalhando pelos arredores dos postes. Tínhamos 3 ao todo pra iluminar a cidade.

  Eramos vampiros do escuro. Sugadores de esperança, e desesperançosos quando o assunto era amar um passo dado no mesmo segundo, eramos inválidos quando o assunto era a fila do INSS, e eramos os primeiros quando tratava-se de sexo explicito em frente à uma creche de crianças cegas. Eramos desafiadores do destino, até que ele nos carregasse no colo e nos mostrasse o reflexo do espelho que nossa alma estampava.

  Eu, a delirante idosa com mãos enrugadas, com cílios esbranquiçados, com cabelo em coque e com os dentes amarelos, naquele dia - por sorte, completava 12 anos. Joguei pedras ao espelho, numa tentativa vã de fazê-lo entender que estava errado. Que eu tinha por direito os 53 anos que passei correndo pelas ruas escuras, sendo abusada por caminhoneiros, e colhendo milho na lavoura que eu imagina ter sido do meu pai. Estampava juventude naquele vulto amarelado, mas estampava “Olhos mortos” como título da minha vida. Assim chegando perto avistei o que temia. Enxerguei-me despida, com seios brotando, com boca rosada e cabelo avermelhado. Chorei por 12 segundos, que se estenderam à 16, ao olhar para meu amado.

  Cabelos negros, deslizantes aos olhos dos comuns. Olhos castanhos, e fantasiado de Capitão América. Ao chocar-se com o espelho, seus cabelos grisalhos foram o primeiro susto que se antecederia à sua morte. A bolsa que seus olhos carregavam daria para levar consigo todo desgosto por ver suas mãos mortas em frente ao espelho que esfaqueou seu coração já gasto. Perecendo assim em frente à imagem que nunca teríamos de nós mesmos.

  E por 50 anos vivemos a mais bonita e enganosa história de cadeia que poderíamos contar em qualquer geração do 1° de abril.

Hélida Carvalho

Volte pra casa

  Amor, eu só digo adeus quando sei que você vai voltar. Você sempre volta quando estou indo e por isso me recuso a ficar. Olha pela janela, faço vigília todas as noites e ainda chamo o teu nome pela janela, mas nenhum sussurro vem a mim com um recado teu. Você nunca vem? Você nunca vai e assim só somos despedidas. Somos o dobrar da esquina e o tropeçar no meio-fio mal colocado na rua que nos beijamos pela primeira vez. Amor, esse é o meu fim? Sempre usando a mentira como escudo e a ilusão como esperança? Você me vê caída numa poça de lágrimas, você me vê afogada no fundo do poço e não me salva? É só um passo, é só uma mão e tudo o que você me deseja é a morte. Pois me recuso a morrer enquanto teus pulmões ainda estão claros e sem nenhum câncer

   Me recuso a ir a algum lugar que não seja ao teu lado porque o céu aqui não tem piedade dos ateus, nos jogam na sargenta e nos fazem implorar o mar como pedido de natal. Vivo nas ruas vazias a espera de um empurrão, a espera de que a terra se abra sob os meus pés e eu voe inferno abaixo só com uma lágrima no rosto e outro inferno nos olhos. Lágrimas essas que se confundem com as mesmas lágrimas que chorei por saudade, lágrimas que chorei pela tua ida, lágrimas que se recusaram a ficar e ver o resto do meu corpo escorrendo pelos olhos, pelas mãos, pelos pêlos e pelos pés cansados de te procurar somente onde você não está. Você não vem? Me empurra, me espanca até a quase-morte e me diz se você vem. Meus cabelos perdem o brilho assim como os meus olhos e eu não sei mais o que vivi ou o que imaginei viver. Amor, estou tão perdida que o céu estava em tons de azul e eu o vi num tom de castanho dos teus olhos. É assim que o a loucura nos toma como reféns? É assim que o mundo começa a girar de uma maneira que nem o sinto de segurança nos salva da morte?

  Amor, eu não quero quebrar o pescoço num acidente de carro, eu quero quebrar todos os meus ossos em cima do teu corpo nu e me refazer depois de um, dois, três orgasmos. Eu quero que a lágrima depois do sexo se confunda com a lágrima depois do adeus e eu comece a chorar por não saber sorrir. Amor, como você ainda sorriu ao me ver jogada as traças? Como você me construiu com diamantes pra depois me jogar aos porcos como vidro barato? Foi pura maldade você me amar. Foi puro desprezo você me beijar. Foi puro nojo o nosso sexo de cinco minutos. Foi puro, tão puro quando tua áurea no meu céu na boca. Amor, esse é o meu fim. Fui só 90 minutos de uma vida inteira, fui intervalo de um amor, fui o trailer da sua história e sinopse da tua história de amor fracassada. Fui a virgindade dos teus dedos ao escrever, fui boca seca ao te ver, fui olhos vermelhos ao te ver partir. Amor, eu sou tudo o que você não pode aguentar por ser sonhador demais, por querer o mundo na palma da mão e esquecer que tenho mais de um metro e setenta de puro desprezo a quem ama. E só assim vou recuando, recusando, voltando e voando. Assim vou me recusando, recuando, indo e nunca voltando. 

  Amor, me recuso a ficar pra não te ver indo embora outra vez.
Hélida Carvalho

quinta-feira, 21 de março de 2013

Um dia de você

   Me vejo na esquina dos teus olhos, prestes a saltar e rolar pelo rosto tão devagar a ponto da tua pele me absorver antes que eu chegue a sua boca e me torne sua saliva. Aquela que vai respingando enquanto você grita com teu reflexo na frente do espelho. Insisto em descer pela tua garganta e desatar esse bolo de nós recheados do que nunca quis ouvir. Quero me misturar com o teu sangue e correr pelas tuas mãos ao se acariciar num dia vazio, quero ser o teu orgasmo inacabado, aquele que ficou pela metade por que um menino de rua tocou tua campainha. Quero voltar pelo teu estômago e te enjoar, quero te fazer me vomitar até que a náusea te desmaie e te force a não querer sair de casa por semanas. Quero me tornar a sujeira nos cantos que a água não toca no teu corpo, quero descer aos teus pés e me guiar até onde você possa me encontrar numa estrela próxima a Saturno. Quero te ver me vendo de outros olhos ao chorar. Quero nascer onde tua dor faz morada e não sair de lá até que sejamos todos nômades novamente. Quero me embrulhar nos teus presentes e mesmo quando a solidão te tomar como refém, eu estaria na sujeira do carpete, descendo pelo ralo do banheiro, sujando a pia da cozinha e sendo tua saliva amarga no começo do dia, eu estaria. Por que cada lágrima tua no meu rosto, sou eu voltando pra você.
Hélida Carvalho

segunda-feira, 11 de março de 2013


   Somos um do outro quando o silêncio entre nossas mãos falam mais que os nossos olhares. Somos um do outro quando tua cabeça se encaixa no meu ombro e nada nos incomoda. Quando tua presença é a unica coisa que importa na rua agitada, quando nossas risadas atravessam quarteirões e alguém me inveja por te ter tão perto. Quando teu cheiro cola na minha roupa, quando teu braço me protege e o resto do mundo só parece o resto. Somos um do outro quando o céu se faz bonito só quando você está por perto, quando as constelações são só pontos cegos na escuridão, quando nossos olhares se cruzam e não há nada que nos impeça de errar a direção, quando tua mão na minha cintura me serve como armadura, quando o cheiro do teu cabelo é o mesmo cheiro da tua camisa, quando um cílio cai e não precisamos fazer um pedido porque temos o que nos basta.

   Somos mais o outro do que um nas tristezas que desaparecem quando um sorriso surge. Somos mais que as lágrimas de saudade, somos o que passou de uma má vontade, somos um acidente bonito. Somos uma história de amor ainda no primeiro capitulo. E carrego comigo a possibilidade de te amar por vinte vidas e ainda não sermos suficientes.

   Amar não basta, ficamos então com a eternidade que o amor pode ser. Somos a chance de sermos eternos.
Hélida Carvalho

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

Sobre-quem.

Minha foto
Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

Leitores.