ou só tinha pulado o muro cheio de musgo. Eu não
vou me desculpar pelas mentiras que nem contei, de como o céu da tua boca me
teve como abrigo quando não havia casa feita de palha, nem banco de cimento.
Peço desculpa pelo grito de perdão que escorreu pelo canto do meu olho
esquerdo, que se afogou enquanto a força de ser simples não fosse suficiente.
Os pontos finais tomaram vida, mas morreram no próximo parágrafo e só sobraram
as vírgulas que insistem em entrar em tormento com o adeus que exijo em dar.
Mesmo quando a vi parada perto da placa, mesmo quando o carro não me esperou
chegar, mesmo quando um quase-te-conto-que-te-amo escapuliu e se foi pela
metade e continuei a andar. Coragem me empurrou numa rua escura porque te vi
entrar lá, meus passos naquela água suja tiravam o que sobrou de mim e cada
passada era como uma estaca tirando a vontade de te fazer poesia. Eu te vi lá,
eu não tinha notado que seus olhos eram tão marcados, nem que teu cabelo
exalava cheiro de doce. Me pergunto se você gritaria um recado pra mim de cima
daquele muro, ou se pularia e declararia morte aos quatro ventos. Quase menti o
meu nome, quase mandei um pássaro te mandar flores negras, mas te
enfiei uma estaca no peito e não me despedi. Não disse adeus porque meu pé saiu
do lençol.
Hélida Carvalho
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