sábado, 28 de julho de 2012

Nane é apelido V - Montando outro quebra-cabeça

Ela o sentiu, o ouviu. Ela nunca mais foi a mesma.

Fazer a mesma rota todos os dias tornam a vida das ruas tão monótonas. Escrever no mesmo caderno todas as vezes que morrer, é poesia. Tomar banho no mesmo chuveiro quente é estar em casa. Ouvir musicas do Brad toda noite por uma semana é fanatismo. Beijar a mesma boca todos os dias é sinal de amor. Não sentar pra conversar é pressa. Andar rápido não é correr, nem correr é necessariamente tropeço. Falar pouco é timidez, não falar nada é frustração. Não beijar alguém é rejeição, beijar alguém em cada esquina é ousadia. Não ser nada é comum, ser comum não é ser nada. Jogar com as palavras é ciência, filosofia. Jogar com as pessoas é doentio, não jogar banco imobiliário é não ter infância. Cabelo curto é sexy, cabeça raspada é recomeço.

Nane era vácuo entre as estrelas, entre os dentes que rangiam ela era lágrima. Nane foi saudade por meses, ela o aperto no meio da multidão que não entendia porque e exemplos. O universo paralelo era azul, tinha “Silêncio é inimigo.” na parede e o guarda-roupa branco. Nane o viu, mentiu ao espelho, publicou um livro sobre ama-lo. Ninguém soube, ninguém a viu amar.

Ninguém é digno de sujar o chão que limpou, ninguém se afoga na banheira que mesmo encheu. Não é permitido morrer de amor, quando não há um olhar voltado para o seu enquanto sorri. Proibido por lei pular as janelas que se abriu com o vento, a poeira no móvel só serve pra desenho. O copo d’água não mata a sede, nem a cadeira serve de descanso. O silêncio nunca trai quem o acompanha, ninguém é digno de ilusão. Ninguém é castigado com marcas no corpo por errar, marcas na alma por amar. Nane era pergunta retórica. 


Nane era pó de estrela e cansaço.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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