É algo que não pede permissão, vai embora sem demora e não há planos de quando volta. São seus passos pela madrugada que me fazem acordar, com um convite de quem sente insônia. Um convite pra dançar na chuva, sentir o cabelo arrebatado pelo vento e os dedos encolhidos pelo frio. Um convite pra um beijo na chuva, uma dança sem música e uma intenção de amar. Me recuso e fugo. Corro entre os corredores e não há ninguém que me dê portifólios, nem que me diga o que fazer. Os mapas perdem uso e servem de proteção do vento frio que faz aqui fora, o cigarro não me esquenta o peito e a fumaça me distraiu da tua imagem que mora em mim. A calçada é meu abrigo por horas, como tudo que venho deixando, deixo aqui também um aviso: o céu promete noite de lua a todos os amantes. Não fiz as malas, tudo que tenho é você. O deixei sentado na cama a minha espera, deixei uma foto minha na cabeceira. Deixei uma saudade da vista da tua janela, saudade do teu riso no meu cabelo e do meu perfume no teu travesseiro. Eu quis, desejei não passar pela porta daquela maneira, lutei guerras com os monstros em mim pra não ir embora sem dizer adeus, eu quis não te deixar esperando. Eu não quis ver teu riso oculto, eu não tenho culpa se as olheiras são as marcas das noites de batalha, e não entendo porque as cicatrizes somem. O sol saiu, o teu fantasma na minha cama me convidou pra tua casa, a neve se foi. Não tenho mais pressa ao sair de casa, não me concentro nas aulas de bioquímica. Os meus dias de inverno se foram, eu voltei.
Hélida Carvalho
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