sábado, 1 de setembro de 2012

O amor está numa jaula de leões

sendo devorado aos poucos, como um lanche na madrugada, ou como uma tortura em que cada pedaço arrancado é o castigo por querer usa-lo. Feridas abertas, sangrando pelos olhos, pulsos minando a semanas e a pele acostumou-se as demasiadas doses de endorfina, que anestesiam os além que tremem as pernas, ameniza o céu azul que aos poucos vai morrendo dentro de cada olho que se ousa em virar-se a luz e cegar-se, porque não enxergar-te é melhor que ver teus olhos sendo drenados por outros horizontes. Não ser o arrepio da tua pele é motivo entorpecente pra não cruzar quadras pela tentativa de ainda querer ser, ainda ter verbos nas mangas, como cartas de ultima hora que trará o suspiro de alivio da noite, ter verbos mortos e pronomes possessivos desgastados por quem te abraça de longe, e por quem te sente por perto e te tem como mais um.

O amor está numa lata jogada aos montes em outros montes, o amor está no fundo da lixeira, sendo regado por lágrimas e comparado a orgasmos, o amor está num cigarro no fim de toda tarde, o amor está na rotina que é morrer intoxicada nas lembranças antigas de musicas novas, na rotina de passar na mesma rua todos os dias e ainda admirar os carros parados por ócio, os muros sendo pintados aos poucos, as arvores morrendo e renascendo como se o ontem fosse só mais um amanhã, ou um pedaço do passado não aproveitado. Como um beijo que nunca nos tocou a boca, como um olhar que nunca foi cegado por um fecho de luz que entrou como um anjo bom na manhã calma do teu quarto, como o cheiro do teu cabelo na minha roupa, sem ao menos teu fantasma ter me visitado. Como um verso pronto cada vez que a saudade me toca os ombros, e escreve com facas afiadas nas minhas costas que eu ainda não te esqueci. Que ainda não morri ontem a noite pra nascer nos teus medos hoje, que ainda não somos nada porque o mundo nos tem. Nos tem como meninos jogando bola e perdendo dedos, como médicos que curam mas que no fim foram ensinados, como eu, como você. Ensinados a serem adoradores de uma imagem que reflete no espelho nos olhos de alguém, no espelho da sua alma desbotada, que sangra por saudade, mas que nunca volta.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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