terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mendigo de nós dois.

Pedindo moedas velhas embaixo das pontes, embaixo de um céu acima da sua boca. Colando cartazes a procura do vento que soprou pra perto do inferno o nosso amor. Distribuindo panfletos aos ignorados, sonhando em atender o telefone e o endereço dos seus olhos estar escrito no bloco de anotações na geladeira. Ou na boca amarga de um estranho, que me pede um beijo, mas me nega amar.

Usurpadores de nossas almas.

Tomando-a como refém dos medos que rondam o bairro, a esfaqueando e a deixando sangrar em cores de uma paleta nude. Colorindo o chão com a cor de outro chão, colorindo as calçadas com cor de pés cansados, enchendo os meios fios com um cheiro de fel, deixando nas solas dos sapatos as marcas e cicatrizes que jamais sairão de seus pés. Deixando os fios de cabelo voar um a um a procura de abrigo, a procura de liberdade, a procura de uma procura sem fim. Deixando escorrer dos olhos, as lágrimas, as cores, as dores, a lágrima negra. Deixando escorrer dos olhos a sua imagem refletida no espelho que se formou o sangue cor de uma saudade que não vai embora. A boca seca denuncia que não há mais palavras, as mãos cansadas e aos dedos calejados somente um adeus. Adeus pintado na ponta de cada dedo, pra que cada carta escrita com aquelas mãos fossem reticências de fins sem fim. Dos pés, o merecido descanso. Do ar que não chegou ao nariz quando vi você, o eterno começo de um novo fim.

Escravos da solidão.

Donos do silêncio que faz de nossos ouvidos enfeites sem valor. Faz das nossas musicas a esmola pra um garoto de rua, faz do nosso amor um silêncio dentro de uma estrela. Escravos de nós mesmos, escravos da eternidade dentro de um ano. Escravos dos prazeres de uma dor passageira, escravos das correntes que nos prendem ao chão. Escravos das asas mortas, das penas que voam a procura de casa. Escravos do cheiro do beijo que não volta, escravos da saudade que criamos com um adeus dentro de um caminho de volta. Escravos da emancipação, da volta pra casa, da ida ao céu, escravos de um orgasmo, escravos do ócio, escravos da eternidade dentro de outra eternidade. Escravos da utopia, escravos.

Mendigos da solidão.
Escravos de nós dois.

Usurpadores da solidão de nossas almas entre nós dois.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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