sábado, 20 de outubro de 2012

Sempre, nunca, amanhã, eu: coisas que não existem.

Esses olhos no espelho fazem do quarto um só clarão, sem luzes, sem borrões, sem espaços. Esse rosto pelo qual eu vejo na esquina de um motel, é um rosto sem identidade. Sem boca marcada, sem dedos com talento, sem pés que caminham, sem ouvidos que não ouvem. Sem coração para quem não ama, sem alma para quem nunca voa. Essa voz no espelho me diz que nada que sai da minha boca é o que eu penso. Essa voz no espelho, não tem o tipo de voz que costuma ser ouvida em discursos, palestras, ou no silêncio. Essas covas não foram cavadas para abrigarem defuntos, foram arrancadas de um pedaço de terra que nunca seria usado pra mais nada. Alguns cemitérios nascem prontos. Seja em um corpo que não se reconhece na frente de um espelho de bar, seja em um coração que só ousa quando todo o mundo está com data marcada para acabar. Seja na somas dos dias que parecem só horas. Seja na ilusão de um amanhã que não vem, porque não existe um amanhã, somos fantasmas de nós mesmos. O cemitério do meu corpo está aberto até as 10h, e até que alguém o complete, sempre caberá mais um coração morto, mais um par de olhos negros, mais uma boca mentirosa, mais um tiro no pescoço, mais uma espera no aeroporto, mais uma espera na semana seguinte. Mais uma esperança com cartas que nunca serão entregues. O destino é que as chaves se percam, e nunca mais esse redemoinho volte a sugar o que nunca foi colocado, o que nunca vai ser desenterrado. Eu sou o olho do furacão que derrubará a sua casa, que destruirá seus pertences, que roubará as suas lembranças felizes. Eu sou o caos que passará por dentro de você e arrancará cada pedaço de vida, sugando a sua alma como um lanche em fim de tarde. Sou o que te constrói tijolo por tijolo. Sou teu pesadelo, dona dos seus corpos, dos seus medos. Você não existe, amar nunca foi nosso passatempo, lá vem mais uma tempestade.

Sempre nasce um novo dia.
Nunca morrem os amores de verão.
Eu sou inércia.
Utopia de botequim, na promoção pague 1 leve 2.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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