O dia não começava quando o sol se levantava. O dia estaria começando quando as minhas pernas tinham força suficiente pra me deixar de pé. Quando finalmente conseguia juntar o que me restou e suportar mais um dia sem a tua presença, quando meus braços conseguiam por reflexo limpar as lagrimas que escorriam freqüentemente dos meus olhos avermelhados. Pobrezinhos, perderam o brilho quando você se foi. O dia começa quando consigo fechar os olhos e dormir se quer por dez minutos, assim sonho com as coisas que nem vivemos, rejuvenesço quando tua imagem me vem como um retrato pintado a dedo ou uma foto tirada da janela do meu quarto. O dia começa enquanto me afogo toda manhã na banheira, minhas tentativas frustradas de suicídio são piadas mal contadas, com o ego enorme da minha alma que nem em mim tem a ousadia de residir. O dia começa quando sinto a água me trazendo agonia, enchendo os meus pulmões. O dia começa quando por força de presença ausente me tira de lá, e me joga novamente na cama – de onde nunca deveria ter saído. O dia começa quando olho o calendário e vejo que é um dia a menos sem você e um dia mais perto de te ter novamente. O dia começa a ter uma hora a mais que o esperado quando o meu coração se enche de esperança por você. O meu dia começa quando você pensa em mim, e nos dias que não se lembrar da minha existência permanecerei imóvel. Como uma foto amassada no teu bolso, ou só na lembrança que um dia existi.
Hélida Carvalho
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