segunda-feira, 19 de março de 2012

Fui uma sombra, perseguia qualquer pessoa que passava pela iluminação aparente dos raios de sol. Encostava-se a cada ser pensante com uma má intenção de roubar-lhe algo que me interessava, de alguns eu roubava somente os brincos de brilhantes para a minha coleção de jóias, de outros eu cometia o maior dos crimes, tirava-lhe a esperança de continuar a andar por onde o sol batia. Certa vez encantei-me pelo casaco de plumas de uma senhora de olhos verdes, como de alguém só poderia roubar um único item, fiquei com o casaco. Os olhos me pareceram tão fúteis, só uma cor, um enfeite. O casaco que estava sobre os meus ombros joguei na soleira da porta, deixei lá como objeto inútil que era, não tinha importância pra mim se os que cobriam os meus ombros eram bem mais vistosos. Apaixonei-me pela futilidade aparente, abandonei o que não me era interessante por medo de ser vista como pessoa que tinha algo em comum com outras pessoas. Decidi então sair da sombra, apanhei meu casaco surrado - que carregava lembranças em cada costura, e me arrisquei em qualquer faísca de luz que me arrastasse. De mim roubaram somente o coração, pouco importa, não o usava a pouco menos de uma década.

Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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