E se nos perdermos, amor? Em uma rua qualquer de outro caminho, ou pior, se nos perdermos de nós mesmos? Como suportariamos viver mais um dia sem presença? A ausência nos faz escravos, nos tem como brinquedos mal usados, nos tem no canto do quarto. A distância brinca com nossas lágrimas como bonecas de promoção, daquela surradas e sem braços. E se pior, se deixarmos de lado a insistência de amarmos a cada dia? Como ficariamos sem amor?
Ficariamos como estamos. Não teriamos dor desnecessária porque o grave nos balança, nossos pés voam do lado de fora da rede, a poeira sobe e nos cega por instantes. Nada nos atingiria porque somos farça, somos ocupação. Vivemos de aluguel em corações vazios, isso não nos dá o direito de rotular amor, ou qualquer coisa que envolva carência em amantes. Vivemos de passagem, nunca ficamos por completo. Metade do que você é me fascina, outra metade me causa repulsa. Não temos o direito de pronomes possessivos. Não tenho o direito sobre você, não temos mais verbos. Não temos assunto, nem conversas, nem exemplos.
Somos um punhado de restos deixados por alguém no canto do prato. Não somos nada, além de amantes de alugéis. Não temos o direito de ser amados por um semestre, não quero o direito de deixar ir embora. Sou um punhado de sobras, não tem nada de vocÊ emim. E se nos perdermos, amor?
Aceitaremos a condição de não estarmos.
Somos um punhado de restos deixados por alguém no canto do prato. Não somos nada, além de amantes de alugéis. Não temos o direito de ser amados por um semestre, não quero o direito de deixar ir embora. Sou um punhado de sobras, não tem nada de vocÊ emim. E se nos perdermos, amor?
Aceitaremos a condição de não estarmos.
Hélida Carvalho.
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