quarta-feira, 4 de abril de 2012

Não sei falar de amor, não sei.

Era uma vez um homem que ia indo por um caminho.
Assim terminou, sem ninguém para segurar-lhe a mão, sem ninguém para chutar as pedras espalhadas pela rua, sem ninguém para dançar no fim do baile. Sem bocas rosadas sorrindo, sem olhos nus pedindo amor, sem cintura fina, sem dedos, sem ninguém. O fim é o trágico silêncio no tom da voz, mesmo sem o adeus em palavras o simples ato de virar as costas explica o sinônimo.

Repetia no espelho todos os dias: Não mereço nenhum amor, nenhum esforço de estar junto, eu não sou merecedor de ser exaltado em voz. Quero vagar sozinho, não quero ser liberto, quero estar com algemas que me prender os pulsos, quero meus joelhos travados, quero não conseguir andar por um longe do tempo. Não quero ser livre. E com o esforço das palavras em frente a tua imagem, tuas lágrimas tomaram a face inteira. Os traços mais sofridos foram lavados com a sinceridade de quem caminhava sozinho. Lembrou de quando só o silêncio em companhia não era estranho, que a rouquidão de sua voz era o que fazia ela se apaixonar ainda mais, os sussurros ao pé do ouvido tirava arrepios dela. Para onde foram as minhas vontades? Será que foram junto com a fascinação por mãos?

Não se importava de ser o menino-velho da vizinhança, tinha o cabelo caindo pela testa, o nariz fino e boca esculpida. Tinha os pés feridos, mas nada comparado à dor da perda do coração. Se foi, não se despediu. Os dias eram vagos e ociosos. Não tinha a pretensão de viver um amanhã, queria a repetição do ontem, ante ontem, mês passado, o primeiro beijo. Queria voltas, meias voltas, queria passadas. Queria um par de olhos, queria o salivar. Poderia mudar, poderia acordar e o desejo tomar-lhe por inteiro, mas quando suas vontades dormiam com ele na manhã seguinte a acompanhava até a porta. Nunca a deixava ficar. Era um fim, um homem que voltava por um caminho era um homem que ia, morreu um homem que voltava. Nasceu um menino que caminhava.

Poderia ser tanto, entretanto é tão pouco.
Hélida Carvalho.

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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