segunda-feira, 9 de abril de 2012

14 de julho, 12:45am

Foi o fim da minha noite, foi o fim das minhas estações. Não existia som ao nosso redor, eu olhei pra cima e o vi tentar uma aproximação. Ele iria me tocar pela última vez, eu poderia aproveitar aquele ultimo beijo de piedade, e então ele se aproximou. Pensei cinco vezes antes de tomar coragem e tentar beija-lo, por um erro de proporções beijou-me no canto da boca. Perguntou-me então com a voz travada porque eu pertencia tanto a ele, a resposta me veio por inteiro.

Pensei em dizer que o meu cabelo anda caindo de tanta preocupação e por preguiça o deixei passar da cintura, ando com preguiça de penteá-lo, que as minhas unhas não são mais afiadas como ele costumava gostar, cortei todas. Pensei em dizer também clichês comprados e baratos, aqueles que namorados apaixonados se declaram por sms, pensei até em fazer uma citação de um autor importante que transmitisse uma imagem sem dó do que sentíamos, pensei nos momentos nossos - todos eles. De como eramos dois em uma semana, na outra eramos metade, no outro mês eramos sobras. Pensei em dizer que meu celular estava quebrando, mexia tanto que a tela não era mais sensível ao toque, apaguei todas as músicas para caber as mensagens que ele mandava. Pensei somente em beija-lo, em sentir tua boca na minha, sentir o teu gosto, o teu cheiro pela piedosa e ultima vez. Pensei em passar a mão despercebidamente por seu cabelo - gosto do jeito que o vento o joga pro lado, pensei em cruzar os teus dedos nos meus, só em caso de desabar daquele degrau. Pensei em te puxar pelo braço e gritar na rua vazia, que eu quero tanto ser tua, que digo ao tio da padaria que tu és o homem dos meus livros. Pensei em contar-lhe como senti medo na nossa primeira vez, minhas pernas tremiam por te ter tão perto, tua mão percorria o meu corpo como mapa, nunca esquecerei aquele dia também. Pensei porque estaríamos em uma rua, terminando tudo - tudo. O nosso tudo desceu pelo ralo, a água do chuveiro agora fica presa, inunda o banheiro. Pensei que o meu mundo jamais seria o mesmo sem você, sem nós. Numa tentativa frustrada de mudar, cortei o cabelo, cortei o dedo num copo de vidro, cortei uns recortes novos e colei na porta do quarto, mas aqui em mim nada mudou ainda.

Por uma fração de segundos, só pensei. Não disse uma palavra.
Meus olhos me denunciaram, uma lágrima contou-lhe tudo.

Foi o terceiro adeus que levei na bagagem.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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