terça-feira, 12 de junho de 2012

Ensaio sobre Layla

As janelas velhas não tem fechaduras, o carpete é macio e enfeitado com uma menina de olhos negros. Não pela frieza que carregavam, mas pelos vales mortos por onde já passou, onde viu cores sem nome e pássaros que não voavam. O peso de suas asas não a faziam levantar, mas a liberdade de correr e sentir a terra entre os dedos tinha cor de marfim. Deitar na varanda, deixar o cabelo encontrar o chão, ouvir as amarras do seu vestido folgar tinham cor de banho. Os banhos de domingos eram lembrança vaga e sem cor na memória de Layla, a imagem lembrava ser livre. Era cor de ser livre, com asas mas sem voo. Em cada nota errada no piano, uma nova cor se formava e Layla as apelidava por ordem alfabética - assim como suas roupas. Quando o toque não moldava um rosto a escuridão visitava Layla, suas lágrimas vinham a tona e tinham cheiro de nota errada no piano. Tinha gosto de não poder voltar atrás, tinham cor de canção errada. Ninguém a ouvia chorar, os acordes velhos Layla guardava debaixo do criado mudo, a magoa de sentir o sol frio pela janela era uma cor sem nome, mas respirar o ar que rodeava suas musicas não tinham letras, nem cores, nem suposições. Era o real, era sua visão sobre o céu.
Inspirado em Vigílias, Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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