Sou
você em um conto sobre amor, ou sou aquele menino que passou espiando a minha
casa. Será que ele queria encontrar algo de valor aqui? Se encontrasse
poderíamos dividir? Será que vale a pena esconder ouro dessa maneira? Nunca
soube a quem fazer as perguntas que quero, tenho medo de ouvir as respostas. Eu
o deixaria entrar e poderia roubar meu som, a minha tv, mas que me roubasse
também. Que me levasse apertada na sacola, assim eu percorria caminhos
diferentes, sentiria um ar matando-me em passos. Queria sentir medo de ser
roubada e não ter como voltar, ficar presa num quarto escuro, sem nem a luz do
olhar de ninguém, nem a luz dos meus olhos. Queria que esse menino me espiasse
e encontrasse algo de valor em mim, mas que tivesse os olhos nus, despedidos de
ínfimos detalhes, mas não os esses brincos que uso porque são bijuterias baratas, nem o meu
relógio porque parou de marcar o tempo, eu tirei a pilha. Que levasse metade de
quem eu quero ser, que me trouxesse um punhado do que restou e naquele resto eu
me encontraria.
Hélida Carvalho
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