O direito de não querer o amor de ninguém a não ser o teu,
eu tenho. As direções que teus olhares se perdem não passam na frente da minha
casa, nem na cidade onde moro. Voltamos
ao circulo que não nos fez, nem quando torto de fez infinito. Você nem se fez
real enquanto me cantava hinos, você nem se esforçou pra parecer interessado
nas mentiras que contei. Minha facilidade de morrer me traz uma alma nova toda manhã, me traz um
chá de limão e convida a sentar. Essa facilidade de jogar no vento as dores que
me apunhalam pelas costas me desprende de você, do que você carrega no cabelo e
no olhar. Se morro todos os dias, nascerei com o cabelo curto, fumarei três
cigarros por hora e sentarei na escada todos os dias esperando você passar. Um
dia você cansa de me ver nascendo em você, e morrendo onde sua porta bate e
renascendo em teu olhar. A quinta que amei se revelou e me fez nascer assim,
com o cabelo alisando o peito, o olho escuro – onde ninguém mergulha, com a
boca rosada e um coração cheio de vazios preenchidos por vontade. Que a solidão
que te balança se vá, que a vontade de rir da nossa saudade morra quando o
choro percorrer teu rosto, eu só vou sussurrar que sinto a sua falta quando meu
sangue cobrir as folhas que escrevo. Que por sinal, são todos os dias que me
permito, que me embrulho e me mando em
forma de carta.
Se o meu cabelo cai no meu rosto é pra esconder a
obscuridade que eu já carreguei no olhar. E o que sobrou de mim foi só amor. Eu
sou amor no fim das contas.
Hélida Carvalho
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