domingo, 23 de setembro de 2012

E se nos perdermos, amor?

Em uma rua qualquer de outro caminho, ou pior, se nos perdermos de nós mesmos? Como suportaríamos viver mais um dia sem presença? A ausência nos faz escravos, nos tem como brinquedos mal usados, nos tem no canto do quarto. A distância brinca com nossas lágrimas como bonecas de promoção, daquela surradas e sem braços. E se pior, se deixarmos de lado a insistência de amarmos a cada dia? Como ficaríamos sem amor? 

Ficaríamos como estamos. Não teríamos dor desnecessária porque o grave nos balança, nossos pés voam do lado de fora da rede, a poeira sobe e nos cega por instantes. Nada nos atingiria porque somos uma farsa, somos ocupação. Vivemos de aluguel em corações vazios, isso não nos dá o direito de rotular amor, ou qualquer coisa que envolva carência em amantes. Vivemos de passagem, nunca ficamos por completo. Metade do que você é me fascina, outra metade me causa repulsa. 

Não temos o direito de pronomes possessivos. Não tenho o direito sobre você, não temos mais verbos. Não temos assunto, nem conversas, nem exemplos. Somos um punhado de restos deixados por alguém no canto do prato. Não somos nada, além de amantes de aluguéis. Não temos o direito de ser amados por um semestre, não quero o direito de deixar ir embora. Sou um punhado de sobras, não tem nada de você em mim.

 E se nos perdermos, amor? Aceitaremos a condição de não estarmos.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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