segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Nane é apelido VIII - 4 anos, e quase nada se passou.

Nem todo dia termina assim, Vô. Nos tempos de inverno, os dias são mais curtos para que nossos medos possam fugir dos fantasmas em suas sombras. - Dizia Nane, olhando seu cabelo que passava da cintura.

O Vô se empurrava na cadeira de balanço na esperança que o próximo acidente o levasse dessa tortura viciante que o vento forte fazia quando as arvores derrubavam-se uma em cima das outras, cobrindo o chão de folhas secas, e assoviando ao velho cantigas de paz. Ou sermões de encher  os ouvidos, e assim dormir por não ouvir seus próprios pensamentos. De hora em hora Nane o observava respirar, por horas, era liberto do seu eu. Do eu que cansou de comer no mesmo prato, se banhar e a sujeira permanecer entre os poros mais limpos, do eu que cansou o reflexo dos olhos de origem alemã com cor do mar, mas que por dentro lago negro, labirinto da alma. E mesmo depois de dias balançando um corpo vazio, observava Nane não ser nada. - Só mais alguns quilos com uma alma castanha. É o que dizia entredentes quando algum conhecido perguntava quem era tal menina.

Nem mesmo o céu é para sempre. Mesmo quando era Nane que pintava o seu amanhã que nunca iria chegar, cor semelhante a terra que se espalhava pela casa como um trilho que caia de suas botinas, e a convidava para ser feliz com ele. Para seguir seus caminhos, e encontrar o amor deitado no sofá, com tamanha paz que sorria involuntáriamente recordando que foi daquela paz que sobreviveu cada fim de tarde com tal amargor no coração, por um fim ter chegado. 

Por não desfrutar mais uma decada com amor nos dedos dos pés, com serenidade aos olhos inchados de chorar, com a dor das idas sem voltas, mas sempre com voltas marcadas. Dos recomeços, e começos infidáveis. Dos olhos de Nane serem semelhantes ao do seu amor, e não ter mais tempo de vê-los desabrocha-los como flores em fim de tarde. Do cheiro de casa no horário do almoço, e de nunca sorrir. O vento assoviou mais uma vez, e o velho disse com a voz arrastada:

- Seus olhos são eternos, Nane.
E sorria por não saber que seu fim era hoje.

- Adeus, Vô.
Seu céu é pra sempre.
Hélida Carvalho

4 comentários:

  1. Como eu precisava ter noticias de Nane, partiste sem adeus, Hélida, isso não se faz. E quando começas a se tornar notável para alguém? Quando algo que passa a ser visível perde a imagem os olhos estranham. E se eu não te achasse? Poderia ser exagero, ou "puxassaquice" Mas procurei por seus escritos de verdade, não sempre, mas quando sentia saudades de Nane. Como se sente falta de alguém "inventada"? E porque sempre sempre vejo tanto de Nane em você? ou é isso que meus olhos querem ver. Emfim, bom revê-la. As duas.

    ResponderExcluir
  2. Você... sempre você. Eu tentei lembrar da sua url no tumblr, e não consegui. Parti sem adeus, porque é necessário dar as costas a quem não te recepciona nos tempos de morte. Espero que leia-me mais, fico feliz que ainda me acompanhe. Se cuide, e se me achar no facebook, me adicione. Precisamos conversar mais. Um beijo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sei mais de Nane que de você, e Nane é só apelido, nem nome ao menos é, e ainda um apelido roubado, rs. Sei teu nome, mas ainda não sei nada sobre você. Não tenho face, mas te sigo no twitter, ao menos acho que é você.

      Excluir
  3. Quem é você no twitter? Eu já te mandei ask esses tempos, e não vi nem a resposta. Siga-me no twitter do blog: @eudelirios.
    E saiba que Nane sou eu, é você, somos nós. Nane nunca caberia em uma pessoa só, por isso a expulso de mim pra que ela possa fazer parte de vocês.
    Beijo.

    ResponderExcluir

Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

Sobre-quem.

Minha foto
Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

Leitores.