segunda-feira, 10 de setembro de 2012

só existe reflexo quando tem espelho por perto

 Só escrevo pelos que morrem pelo exagero do velório. Flores em cima da seda, no meio da sala, no meio do nada, pés descobertos e um peito aberto. Quem te isola não te tem amanhã. Quem te abre hoje, não te costura amanhã e a forma aberta pelas costelas te toma o corpo e o que sai de você é fumaça, é lágrima e alucinação. 

  O inferno tem os cílios grandes e a boca molhada, tem tapete na porta e marca a casa de número 12. Te assombra com o reflexo na janela, te faz correr com o cabelo que voa pelo vidro do teu quarto, te faz dormir sufocado no ar quente que é o medo. Do nada, se não ter nada. Não ser é mais fácil do que acender uma vela. Os joelhos ralados não falam, não cantam e não contam a história certa. Corta as melhores partes e pula na tragédia. O afogado não escreve porque bebe água ou toma banho, escreve pela liberdade de voar antes de cair no mármore, ou de cair no rio. Sorrir no espelho é abrir um buraco e não costurar. Sorrir para quem te faz espelho é voar, mesmo em queda.
Hélida Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

Sobre-quem.

Minha foto
Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

Leitores.