sábado, 8 de setembro de 2012

Só não consigo te imaginar vivendo outros amores por aí..

Não, não é assim que se perdem as causas. É de um jeito mais poético e enfeitado, pessoas choram, se despedem, ameaçam cortar os pulsos e se jogar do 12° andar. Começam a viver numa utopia moldada por um livro do Shakespeare, choram por noites inteiras sucessivamente, vivem num buraco atrás da porta do quarto, gritam no carro parado no meio do trânsito infernal, se entopem de pílulas pra dormir, explicam ao terapeuta porque teria dado certo se tentassem mais uma vez. Não é assim que as pessoas se vão, não é sem dar adeus, nem acenando com a mão. Também não é afastando-se toda vez que você passa na rua e não cumprimenta, não é. Não é colocando as fotos num balde e as queimando, não é cortando as cartas antigas, não é cortando caminho por outras ruas pra não ver passar aquele alguém que já foi seu. Num adeus mora um “não servimos mais” entre outros “não temos mais assunto”, mas também faz vida ao “éramos felizes juntos” “nossas musicas preferidas eram as mesmas” “eu amo o jeito que ela me fazia rir”. Eu só te fazia rir, amor, porque teu riso me provoca cinquenta diferentes tipos de felicidades momentâneas, me dopava da tua gargalhada roca, do teu olho se fechando enquanto você ria, do teu braço alisando o cabelo que caia no rosto. Eu ouvia as tuas melhores musicas, mas nenhuma delas nos cantavam tão bem quanto Wonderwall, que é a minha favorita, só que você nunca ouviu. E se hoje não temos mais assunto é porque você sabe tudo que se passa aqui dentro, aqui fora e ao redor da nuvem que me cobre. Se não sei qual teu dia preferido é porque você muda de segunda a segunda, você ouve novos discos e esquece de me contar, você vê um olhar que te chama a atenção e meu olho já não é tão lindo rodeado dessas olheiras de preocupação, meu cabelo também perdeu o brilho, não tem mais aqueles cachos que você enrolava na ponta do dedo enquanto falávamos das suas viagens. Eu não sei mais sobre o que falar, já que o céu era o nosso cenário e abaixo disso nada é novidade. Perdão se meu riso já não é tão hidratado, é porque eu perdi o jeito, eu não sei lidar. Não sei lidar com você vivendo outras causas, rindo outros risos e sonhando outros sonhos.
Hélida Carvalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

Sobre-quem.

Minha foto
Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

Leitores.