Depois do encontro, os olhares se chocaram, ambos em tempestade mutua, a voracidade com que se encaravam despertavam turbilhões de desejos infindos em presença do outro.
Sem piedade, algo os atingiu, os destruiu. Sem o mínimo pesar na consciência, pelas marcas do rosto dela esvaiu-se todo o amor, a essência dissipou-se em suspiros que se alternaram a prantos. Daqueles em se podia ver a escassez de paz, que antes se encontrava cravada em alma. Só restou a ausência do teu ser, do nosso abrangente querer. Com a cabeça no meu ombro recitou-se canções em forma de poemas, cessou-se então toda a vermelhidão do olhar que buscava pelo teu beijo. Estendi meus olhos, foram de encontro com a escuridão que me assolava, trazendo assim o alivio imediato ao rosto que em mim descansava, senti sua respiração ofegante e balbuciando antigos devaneios - ignorei-o.
Cobri-me de imensidão, mesmo que tua luz tenha se apagado, aqui dentro cada passo sem o teu ao lado é tortura.
Hélida Carvalho em "Cartas para Abel."
Hélida Carvalho em "Cartas para Abel."
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