Nane tinha mania de perseguição, caminhava pelas ruas sempre olhando compulsivamente para os lados, sentia que alguém a observava em cada esquina que virava, sentia um par de olhos a espiá-la. Mas era só mais um dia comum, a menina dos olhos puxados só estava voltando da escola assim sua rotina seguia como um escudo. Nada entrava em suas horas de descanso, ninguém se ousava a dar ordens porque a menina de pele morena tinha uma voz que deixava qualquer boca a se calar em trinta segundos. Nane agüentava as dores dos outros, mas as suas ficavam escondidas embaixo da cama, lá no fundo mesmo juntinho com os sapatos não usados.
Dia ou outro a morena de cabelo liso deixava algo escapar, preenchendo assim portas, paredes e janelas com suas angustias intermináveis. As músicas que tocavam seu coração em um momento de fraqueza eram banidas, estavam ameaçadas a ficar longe de seus ouvidos, nenhum acorde que a despertasse um arrepio ficava em seu radinho de pilha. Os livros que enchem a mesa do lado da cama não contêm histórias de amor, nem desespero em ser amado, tem a história de uma vida que vivemos em outros séculos.
A menina atormentada tem assuntos estranhos, fala como a grama cresce de semana em semana, sai pelas ruas perguntando o horário pra cada pessoa que pendura um relógio no braço. Nane tem medo da solidão, mas nunca deixa ninguém entrar no seu castelo. Prometeu a si mesma que em dias de céu nublado iria sair com seu vestido verde e sua sandália de dedo pra encontrar alguém, com o cabelo em coque iria encontrar o amor na próxima esquina, ou no ponto de ônibus.
Assim, a mania de perseguição era um desejo, mas de longe ninguém a observava.
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