- Os seus peitos ainda são duros, coroa.
O vizinho me espiava pela janela, que malicia. Aquele virgem tinha pouco mais de 18 anos, e não me deixava em paz, no caminho da padaria não tirava o olho do meu rebolado. Desejei descer correndo aquelas escadas e o fazer se arrepender do que tinha dito, ou poderia mostra-lhe os meus péssimos modos na cama. A minha fama de boa puta rodava todo o quarteirão. Não dava ponto sem nó, não dava trabalho pra malandro, nem ousadia pra garçom. Tinha tatuagem de estrela na nuca, e uma flor de lis na virilha. A flor mostrava só o talinho, eu gostava da maneira como os homens se esticavam pra cair na minha calcinha, mal sabiam que significa Pureza. Santa puta da pureza, eu ria alto e sozinha.
As mascaras me protegiam de dia das pessoas de quem eu fugia, me escondia pelos cantos do bar, ou não rebolava tanto na festa, não ia buscar as minhas filhas na escola, não assistia novela - porque é coisa de velha. Não ouvia música antiga, gostava da modernidade. Mas quando a noite chegava, quando os lençóis da minha cama estavam sujos e manchados por algum estranho infeliz, quando minhas unhas caiam e eu tirava o aplique, o ataque me tomava.
Escondo-me todas as noites da única pessoa que tenho vergonha de ser: eu.
Hélida Carvalho
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