como o meu pé derrapou no primeiro degrau, talvez minhas pernas
não suportassem o peso do meu corpo naquela tarde, talvez eu não estava
concentrada em cada degrau ou nas passadas que daria em direção contrária a
você. Foi um mal jeito como as palavras que saiam da minha boca chegavam
estranhamente desajeitadas aos teus ouvidos, o que precipitava minhas lágrimas
e tua arrogância. Eu não deveria ter dito que nunca amei ninguém, ou que caí da
escada quando pequena. Eu nem deveria ter dito-lhe meu segundo nome, nem o que
carregava no peito quando não havia nada pulsando naquelas veias aparentes do
meu peito. Lembrei de pegar o casaco ao sair de casa, lembrei de prender o
cabelo alto - você gostava, lembrei de ensaiar as falar pra aquela peça que
estava marcada para as 18:30h.
Decorei o espetáculo inteiro, cantarolei as musicas enquanto a
minha colega dizia que era só saudade. Mas eu chorei saudade semana passada,
chorei nostalgia e não sobrou lágrimas pra você, então o céu chorou por nós.
Chorou a semana inteira, me soprou canções conhecidas enquanto o ônibus estava
perto de onde combinamos, o céu chorou até que eu derrapasse no primeiro
degrau, e que você que me segurasse. O céu sorriu quando te viu pegar a minha
mão, e me puxar pela cintura. O céu nos desejou brisa fria, as minhas falas e
músicas foram levadas pelo medo que prendia o cabelo no alto. O céu não me
prendeu, foi de um mal jeito que te joguei longe, foi de um mal jeito que não
consegui chorar. Foi de um mal jeito que não te chamo mais de amor.
Foi de mal jeito quando eu disse que não sentia mais saudade.
Hélida Carvalho
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