Me convenço que é melhor sem teu riso no pé do ouvido, sem teu cheiro no casaco, sem teu eu em mim. Minto aos quatro ventos, amor. Minto porque não há nada que nos quebre, não há ninguém que cate nossos cacos e os jogue no mar, para sermos lembrados. Não seremos inesquecíveis, nem memoráveis, seremos só mais uns entre os falharam. Seremos os primeiros da lista quando o assunto é quase-amor. Seremos os últimos quando o assunto é pele, nuca, olhares e ensejos. Mas seremos o mais corajosos ao tentar, dar as cartas na mesa e não trapacear ao ver o outro perder. Sou uma tentativa vã de encaixe nas tuas peças quebradas. Sou uma sobrevivente no deserto, se minha boca seca e não consigo te abraçar com o que escrevo, é porque da tua água não bebo mais. E na tua boca não cabe mais um milagre.
Hélida Carvalho
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