sábado, 25 de agosto de 2012

Wanderlust. 2


…a propósito, uma coisa que nunca te disse é que eu nunca-

E era assim, era pra sempre aquilo de nunca dizer. Ou falar demais. Querer, querer, querer e não ter mais o que fazer. Hell era uma espécie de pílula que só desce com água, mas depois de um tempo você gostava tanto que fingia doença só pra poder experimentar de novo. Tudo era início. A flor abrindo, o céu rasgando, o Sol nascendo. Tudo era início, tudo era recheado de motivos, de porquês. Parecia que o relógio não era de tempo, mas de momentos. Quando ela escovava os dentes e parava pra atender a porta, quando ela queria dizer adeus e não dava, quando queria ver a noite e o escuro não chegava de jeito nenhum. Era o seu tempo, isso de mover o ponteiro por cada coisa interminada ou impedida. Sede por viagens, wanderlust. Porque ninguém sabia que entender era bater de cara no muro e que perceber era encontrar pra perder logo-logo. Tudo era início, tudo era aquilo de se recomeçar cada vez que ela se embrulhava no lençol. Era uma fita cassete com o filme cortado de propósito no ápice, no frio da barriga. E era assim, aquilo de dizer que as coisas estão fora do lugar só porque ela não conseguia enxergar nada. Não dava! Hélida esfregava os olhos com força - eu lembro de uma vez que ela se arranhou nisso, no impulso de pular pra outra dimensão e não conseguir -, mas ela não saia do lugar. Tudo estava no lugar e perceber isso era difícil. Porque cada vez que ela percebia, ela perdia tudo de novo e de novo. Era algum vício estranho, os planetas alinhados pra ela ir de novo e de novo pro mesmo ponto. O de partida. Ela só entendia, só se socava no despero, só beijava a decepção. Dava de cara no muro porque entender é nada! E perceber é quase impossível quando as coisas falham. Quando as coisas escapam pelo mesmo erro, a mesma brecha, o mesmo furinho do coração. Wanderlust era o nome da sua rua, das suas milhões de vidas, do gosto insosso, do sufoco que sentia quando espremia sua cabeça no travesseiro velho. Da ferida aberta que sobrou no lugar das lembranças.

Amanda Lua;
“e o que você quer dizer quando seu coração não está nele?
ele realmente não está nele?”

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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